sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Paul Gauguin, Victor Segalen ("Hommage à Gauguin") e a procura da felicidade
















VICTOR SEGALEN E PAUL GAUGUIN











Victor Segalen (1878-1919), o incomparável autor dos "Immémoriaux", historiador e etnólogo, passando pelo arquipélago das Marquesas, poucos meses depois da morte de Gauguin, foi o primeiro herdeiro objectivo da obra "selvagem" do artista colossal.

Segalen é o autor de uma rica e vasta grande obra consagrada à Oceania, onde foi médico militar, e à China.


Victor Segalen (14 de Janeiro, 1878 - 21 de Maio, 1919 , médico naval francês, etnógrafo e arqueólo, escritor, poeta, explorador, teórico de arte, linguiasta e crítico literário.
Nasce em Brest. Estudou medicina naval em Bordeaux. Viajou e viveu na Polynesia (de 1903 a 1905) e na China (1909-1914 and 1917).

Morre acidentalmente, na floresta de Huelgoat, em França (em circunstâncias misteriosas e, segundo contam, com um exemplar, aberto, do Hamlet ao lado).
Escreveu:

Les Immémoriaux (sob o pseudónimo Max Anély, em 1907)
Stèles (poemas em prosa 1912)
Peintures (1916)


Publicações póstumas :
Orphée-Roi (1921)
René Leys (1922)


Cito algumas passagens da Introdução de Aníbal Fernandes ao livro "A Cidade Proibida", traduzido por ele em português, que ajudam a perceber o percurso de vida de Segalen:

"Literariamente marginalizado em vida, Victor Segalen é agora uma boa reputação póstuma com direito ao inquérito que apenas consegue dar realce, numa biografia neutra, à mãe autoritária, à miopia forte e à morte singular.
Mal damos por ele nas suas viagens de fim de mundo, vinte e cinco anos depois de nascido em Brest, 1878, quando seis planetas em signos de terra lhe concertam no céu astrológico um "horror ao mar" que passa a ironia maior na sua carreira da Marinha. E sendo ironia, por certo vai também ser privilégio do médico de bordo todo literato e entregue aos seus livros do Deferente (lembremos aqui “Os Imemoriais” sobre os Maoris; os poemas chineses de Stèles; os poemas de Thibet; o romance — à falta de melhor palavra “Equipée”...), ou seja, entregue aos seus livros de homem das lonjuras que vê o mundo e diz sempre por escrito as suas visões assombradas quase sempre por um "Real-Limite" a todo o passo tocado pela fluidez do Imaginário.

Subitamente esvaído, Victor Segalen regressa à Europa: ainda vai ser amigo de Gourmont, Debussy e Huysmans antes de preparar a morte prematura, doente não se sabe nunca de quê.

"Fui cobardemente traído pelo meu corpo!" — queixume numa carta dos últimos dias a Jean Lartigue — "De há muito este corpo me incomodava mas lá ia obedecendo, razão de eu ter podido arrastá-lo a corrupios vários que não eram, na aparência, feitos para ele (...) Sífilis: zero; tuberculose: zero; anemia: zero; paludismo: zero. (...) Não tenho nenhuma doença conhecida, apanhada, verificável, e assim mesmo tudo é como andar gravemente afectado. Já não me peso; não quero saber de remédios; só vejo, muito simplesmente, a vida afastar-se de mim."

Solitário, em Maio de 1919 hospeda-se num albergue do Finisterra, na floresta de Huelgoat, que é centro mítico do Ciclo do Rei Artur, e, manhã mal nascida, sai de aparente passeio para morrer debaixo de uma árvore com o Hamlet aberto numa cena do III Acto”.

(Aníbal Fernandes, na Introdução de A Cidade Proibida).



PAUL GAUGUIN

Viveu em Lima mas nasceu em Paris até aos 7 anos, data em que o pai decide partir para o Peru procurando um lugar de jornalista. Porém, durante a longa e terrível viagem de navio, acabou por ter complicações de saúde e faleceu. Assim, o futuro pintor desembarcou em Lima apenas com sua a mãe e irmã.
Quando voltou para França, em 1855, segue os estudos em Orléans e, aos 17 anos, ingressa na marinha mercante e corre o mundo. Em 1873, casou-se com a dinamarquesa Mette Sophie Gad, com quem teve cinco filhos.

Aos 35 anos, tomou a decisão mais importante de sua vida: dedicar-se totalmente à pintura. A sua obra, longe de poder ser enquadrada em algum movimento, foi tão singular como as de Van Gogh ou Paul Cézanne.
As primeiras obras tentavam captar a simplicidade da vida no campo, o que ele consegue com a aplicação arbitrária das cores, em oposição a qualquer naturalismo, como demonstra o seu famoso Cristo Amarelo.

O pintor parte para o Taiti, em busca de novos temas, para se libertar dos condicionamentos da Europa. As telas surgem carregadas da iconografia exótica do lugar, e não faltam cenas que mostram um erotismo natural, fruto, segundo conhecidos do pintor, de sua paixão pelas nativas. A cor adquire mais preponderância representada pelos vermelhos intensos, amarelos, verdes e violetas.
Morou durante algum tempo em Pont-Aven, na Bretanha, onde sua arte amadureceu. Posteriormente, morou no sul da França, onde conviveu com Vincent Van Gogh. Numa viagem à Martinica, em 1887, Gauguin passou a renegar o impressionismo e a empreender o "retorno ao princípio", ou seja, à arte primitivista.
Tinha idéia de voltar ao
Taiti, porém não dispunha de recursos financeiros. Com o auxílio de amigos, também artistas, organizou um grande leilão de suas obras.
Colocou à venda cerca de 40 peças. A maioria foi comprada pelos próprios amigos de Gauguin, como por exemplo Theo Van Gogh, irmão de Vincent van Gogh.
O Cristo Amarelo, 1889.
Conseguindo menos de 3 mil francos, em meados de 1891 regressou ao Taiti, onde pintou cerca de uma centena de quadros sobre tipos indígenas, como "Vahiné no te tiare" ("A moça com a flor") e "Mulheres de Taiti", além de executar inúmeras esculturas e escrever um livro, Noa noa.
Quando voltou a Paris, realizou uma exposição individual na galeria de Durand-Ruel, voltou ao Taiti, mas fixou-se definitivamente na ilha Dominique.
Em setembro de 1901, transferiu-se para a ilha Hiva Oa, uma das
Ilhas Marquesas, onde veio a falecer de sífilis."
(in Wikipedia)
Depois desta biografia sumária (quem não conhece Gauguin?), deixo-vos algumas imagens das suas pinturas inspiradas quer em Tahiti, quer nas Ilhas Marquesas.

Victor Seagalen escreve um livro muito interessante sobre esta passagem de Gauguin pelas ilhas: chama-se "Homenagem a Gauguin, o insurrecto das Marquesas" (Hommage à Gauguin, l'insurgé des Marquises, Magellan & Cie, colecção Traces & Fragments, Paris, 2003)


















Nota:

O livro “Noa, Noa”, de Paul Gauguin, precedido de “Homenagem a Gauguin”, de Victor Segalen foi publicado na Assírio & Alvim em 1985
Tradução: Aníbal Fernandes
Existe a tradução de "A Cidade Perdida" e do livro "Maoris" (editorial Estampa), de Segalen

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