terça-feira, 20 de abril de 2010

Música, livros e pessoas: ainda o Botswana, Alexander McCall Smith, o livro "A Agência nº 1 de Mulheres Detectives", Mizjay Musi e Marty


Botswana 1 e MizJay Mmusi...
Escreveram-me:
"Quadro real? e eu a pensar que este tipo de amizade, relação... só existia nos filmes. É que hoje em dia as pessoas são muito desconfiadas..

Mas o que tem de surpreendente para mim, o que tem de bonito, é saber que estamos tão perto de alguém a quem nunca demos 1 aperto de mão, que nunca vimos pessoalmente, e trocar impressões, gostos comuns inclusivé...

Adorei o facto de ter apresentado esta "história", professora! ou acontecimento...não sei...
Gostei muito, é interessante!
Saber que há pessoas em África que têm a força e a vontade desta rapariga, aumenta a minha vontade de um dia voltar ao meu país e fazer multiplicar os casos de sucesso que actualmente, infelizmente, ainda são mínimos...
beijo marty"

Interessante, pensei eu ao ler o comentário, foi ter encontrado um dia a Marty e a Glykéria, irmã dela, num ano em que me afastei mais de casa, S. João e fui colocada como "destacada" em Sintra, por ausência de horário -expressão que ainda hoje não consegui "traduzir" para língua de gente.
Foram tempos difíceis para mim, era o horário da noite, saía cedo de casa -com medo do trânsito para Sintra (felizmente, as mais das vezes, estava no sentido contrário) e chegava a casa bem cansada, às vezes depois da meia-noite.
Lembro-me dessas viagens que tinham de bom a música que ouvia para me "animar" à ida e "di-stressar" no regresso.

Era simples:

Começava com Bach!
Mas o segundo Bach, o Bach-filho: Carl Philipp Emanuel Bach, o filho de Johann Sebastian Bach (Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788), de quem Mozart tinha uma opinião excelente, e que viria ser o Bach mais famoso de sua época).

O "allegro" do belíssimo e empolgante "Concerto in D Minor for Fluta and String Orchestra", Wq.22. -podem ouvir, pus o link em baixo.

Seguia-se um Stevie Wonder barulhento, mais a sua música louca e bela cujo CD ouvia até ao fim, desligando o leitor de CDs só quando parava o carro ao pé da escola de Santa Maria.

No regresso a casa era tudo diferente: Ella Fitzgerald e Louis Amstrong, no seu eterno e suave "diálogo" amoroso, cheios de vida e de vontade de viver...

Pois era assim.
Ora foi nesse ano lectivo de 2005/2006 que conheci as duas irmãs B.
Vinham de Angola, mãe angolana, pai são-tomense.
Era a professora delas de Francês, e, um ano mais tarde, de Português, só da Marty. Ficámos amigas para a vida...

Encheram-me do entusiasmo, da curiosidade delas (e da Carla, da Maria, da Mónica que não esqueço), a vontade de aprender os "porquês" disto e daquilo.
Com a Marty vivemos alguns momentos de teimosia -dela...- na dúvida da (para nós) célebre questão do "passé composé".

De onde vinha esse tempo? O que era? para que servia? Aos franceses não bastava o "passé simple"? E em português a que correspondia?
No fim e ao cabo: o que era?!

Perguntas pertinentes, como o são sempre as das pessoas que querem saber.
A situação durou umas aulas porque eu não conseguia explicar o que me parecia evidente, até que percebi que se fosse assim tão evidente não teria provocado aquela dúvida!

Criou-se grande confiança: a Glykéria mais sonhadora, absorta no seu mundo interior, mais poética -ou de modo diferente- estava a escrever um livro de ficção para crianças, queria concorrer a um prémio.
O nome dela soava estranho, falávamos nisso na aula, ela dizia que fora o pai que o tinha escolhido e que talvez fosse russo ou polaco.

Um dia, ao ler um livro de Ivan Bounine (1) -os russos estão sempre metidos nestas histórias misteriosas, sonhadoras, ou melancólicas-, o meu marido encontrou uma personagem chamada "Glykéria" (2).

Tinha-o lido um livro dele, muitos anos antes, na colecção Inquérito, com o título "Amor que santifica".

Procurei agora na Biblioteca Gulbenkyan online, no ROL DE LIVROS, e respondem que: "foram encontrados 1 resultado na pesquisa" - há, pois, um exemplar na Gulbenkyan...

E alguns ainda andarão pelos alfarrabistas. Quem sabe se na Livraria Lumière do Porto, da Travessa da Cedofeita? Têm lá tudo!

Foi grande uma excitação para todos, fiz fotocópia da página, levei para a aula, todos falámos disso e a Glykéria guardou-a.
Penso que gostou de se ver num livro de um grande romancista russo...
A Marty, mais pragmática, com um olhar que ia ao fundo da gente, era rápida a apanhar tudo mas tão distraída ao mesmo tempo nessa "rapidez" que por vezes se perdia nos testes.
Inteligentes, orgulhosas, voluntariosas as duas.

Hoje estão na Faculdade, lutam estudando e trabalhando em cursos que não se revelam fáceis. Vemo-nos muitas vezes em minha casa, e trouxeram mais duas fantásticas irmãs.
Por issso achei que, uma vez mais, a vida pode ser maravilhosa:
Quando a Marty me escreve porque a figura de Janet a entusiasmou e lhe fez entender o "porquê" de querer voltar para a sua terra um dia, preparada para ajudar, e "multiplicar os casos de sucesso que infelizmente hoje ainda são mínimos", como ela diz, fico contente.

"There are more things in heaven and earth, Horatio, than dreamt of in your philosophy", já dizia o suave príncipe da Dinamarca (3)...
Sim, há mais coisas no céu e na terra -como o improvável encontro, segundo Horatio, de Hamlet com o fantasma do pai- do que a filosofia, a razão sonha...

Botswana 2,
Alexander McCall Smith e "As Mulheres Detectives" filme realizado no Botswana de que fala Mizjay Mmusi.

Comentário de c.a, autor do blog "casa improvável":

"Quando leio ou ouço falar sobre o Botswana lembro-me sempre de uma triologia muito engraçada de um escritor que nasceu no Zimbabwe, chamado Alexander McCall Smith, sobre uma mulher detective. O primeiro tem por título «A Agência Nº1 de Mulheres Detectives», o segundo «Moralidade e Raparigas bonitas» e o terceiro «As Lágrimas da Girafa». Se ainda não leu, recomendo. Reparei que gosta de policiais, tenho a certeza que gostará destes."


Fui procurar logo o site na internet e já encontrei muito sobre este escritor, cujo livro já encomendei.

Para quem estiver interessado, está publicado na editora "Presença" que publica por vezes bons policiais.
Aqui está o que descobri sobre ele:

O escritor Alexander "Sandy" McCall Smith, nascido em 24 de Agosto de 1948, é um escritor Zimbabwano (nascido na Escócia) e Professor Emeritus de "Medical Law", na University of Edinburgh.
Nos finais do século XX, McCall Smith tornou-se um respeitado especialista de direito da Medicina em e bioética e trabalha nos "British e internacional Committees" ligados a esses problemas.

Tornou-se conhecido também como escritor de ficção. E aí é que temos as "Detectives" da Agência nº 1.

A sua obra mais conhecida é, de facto, a série policial The No. 1 Ladies' Detective Agency series, série de 11 novelas.

A Agência de Detectives está situada em Gaborone, capital do Botswana.

A sua fundadora é uma mulher Motswana - Mma Precious Ramotswe ( ver nota),- que é a protagonista das histórias e a detective principal...

Trata-se, claro, de resolver mistérios e tudo se segue: uma história vem sempre na continuação da outra.
Foi adaptada para a rádio e para a televisão.
___________
Motswana:
(Nota)
Mme. Precious Ramotswe:
"Is a full-figured, rather jolly woman, and is the first female private detective in Botswana. Her personality is characterized by wisdom, intelligence, and patience, revealed in her approach to her assignments as a private investigator. These have included tracking down missing husbands and children and bringing them back to their families. Precious Ramotswe is the daughter of the late Obed Ramotswe, a Motswana cattle farmer from Mochudi.
After a disastrous marriage to Note Mokoti, a jazz musician, and the death of her father, she sold the cattle she inherited and founded The No. 1 Ladies' Detective Agency in Gaborone, taking on Grace Makutsi as her secretary. She has a high opinion of herself, which is often borne out in the tactful and effective approach to professional detection. She does not limit herself to merely answering clients' questions, but endeavors to do so with humanity and kindness. Sometimes this means responding to a clients' unspoken need for affirmation or closure; other times it is the subject of the investigation whom she helps, perhaps by urging them to reconcile past bitterness or by not revealing certain details of her discoveries."
_______________________________
(1)

Primeiro escritor russo a receber o Prémio Nobel da Literatura, em 1933, Ivan Bunin (nasce em 1870 na aldeia de Voronezh, na província central de Oryol -em 10 ou 22 de Outubro- e morre em 1953) é tão conhecido na Rússia hoje como qualquer outro dos grandes realistas do século XIX: como Leão Tolstoï e Anton Tchekhov.

Perseguido, após a revolução de 1917, Ivan Bunin fugiu da Rússia, onde seus textos foram proibidos.

2) Encontrei uma cantora grega chamada Glykeria: Vale a pena ouvir!

(3) Shakespeare, "Hamlet", Acto I, Cena V


(4) Carl Philipp Emanuel Bach, "Concerto em D Menor para Flauta e Orquestra de arcos"



http://www.youtube.com/watch?v=NV2oS_RC9X0

(5) Stevie Wonder,

http://www.youtube.com/watch?v=mCXMl4Hs2Oo&feature=related

(6) Ella & Louis, Love Songs

http://www.youtube.com/watch?v=ExmoiGZuiFQ&feature=related

2 comentários:

  1. A Marty tem muita razâo.Deixe-me compartir consigo alguns pensamentos sobre a verdadeira amizade.
    -Os amigos ajudam-te a levantar quando os outros nem sequer notaram que caíste.(Suzanna Tamaro)
    -Afasta-te do amigo para quem representes um meio e nâo um fim.(Ramón y Cajal)
    -Nâo percas o tempo com alguém que nâo esteja disposto a perdê-lo contigo.(G.García Marquez)
    -Quem procure amigos sem defeitos,ficará sozinho... Bêîjînhôs

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