quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os livros sempre: lembrando "Nikalai! Nikalai!", de José Rodrigues Miguéis

Falando de livros e escritores, e do seu valor incomensurável na vida!...

Sem cifrões, mas com certeza bem importantes para quem os lê...


Miguéis morre, faz hoje trinta anos. Falei aqui há pouco dele (ver links abaixo).

Quero apenas lembrá-lo.
Tantos escritores bons e esquecidos, que há por esse Portugal fora!
De quem ninguém se lembra...

Gostava de recordar um livro dele que li há pouco: “Nikalai! Nikalai!”(*)

Livro em que se conta a história triste, dramática e ao mesmo tempo divertida, contada com o humor de Miguéis, de dois refugiados russos, cossacos dos exércitos do Czar Nicolau II.

Depois da Revolução de Outubro, de 17 deixam a Santa Rússia e espalham-se pela Europa.

Estes dois, Othon Kirílovitch Buldógov e Vladimir Mirônovitch Tatarátsin, caem em Paris.

Ali sobrevivem num quarto imundo minúsculo em que dividem o espaço, onde mal cabem, de um mansarda.

Vivem na miséria. Vão, quando podem, comer à Pensão russa, de Madame Papelótskaya, para os amigos apenas Kátia Ivânovna, ex-vivandeira do exército...

Ali se reúnem os saudosos soldados, oficiais lembrando o seu amado Nikalai, para eles espécie de D. Sebastião...

Com os olhos cheios de nostalgia da Rússia, bebendo vodka e comendo pirojskis.

Isto, quando a Madame Papelótskaya está para ali virada, pois geralmente a comida da pensão é uma sopa aguada –o célebre bortch russo feito com bocadinhos de carne (com osso!), beterrabas, ou couves e uma colherzinha de natas ácidas...
E umas "côtelettes" à Pojarsky ou à Pálkin, sempre iguais, de que se queixam todos...

Mas por vezes, em ocasiões especiais, têm direito aos pastelinhos de carne, os tais pirojkis...

Depois cantam as canções da sua terra, dançam à cossaca, agacham-se de mãos na cintura e saltam esticando as pernas, no meio da dança... E choram.
Miguéis compreende bem os problemas dos exilados russos, ele próprio emigrado em New-York, durante anos.
E sabe contar a história com sensibilidade e ternura.

E o que acontece, depois?

Bem, depois, depois, depois...

Vão ler o livro! Vale a pena.

Todos os livros dele valem a pena...
(*)
1ª edição, Editorial Estúdios Cor, 1971
2ª edição, Editorial Estampa, 1982
3ª edição, idem, 1985
Deixo alguns links sobre o autor, que podem interessar a quem gostar dele:

http://sobreorisco.blogspot.com/2010/10/jose-rodrigues-migueis-morreu-faz-hoje.html




Este´é fundamental, para quem saiba inglês:


3 comentários:

  1. Gosto de José Rodrigues Miguéis como, e talvez por acaso ou coincidência, não sei muito bem, de todos os que pertenceram à Seara Nova. Não conheço o livro que apresenta, mas fiquei com um travo de procura.
    O que escrevo agora, (no comentário a este texto), servirá também, para quase todos os outros que fazem parte deste magnifico blogue.
    Este blogue é o exemplo do que deve ser o incentivo ao conhecimento e à cultura, que tão arredados andam das nossas preocupações!
    Diz a M.João,que foi professora e acha que se é para sempre professor.
    No seu caso, por favor, substitua o "acha" por "tenho a certeza", pois qualquer pessoa de bom senso, não verá qualquer presunção, o blogue fala por si.
    Bem haja por ter sido professora e pela vida que proporcionou aos seus alunos, estou certo. Pela minha parte continuarei a seguir tudo o que seja conhecimento.

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  2. Amigo Rialto, fiquei muito sensibilzada com o que me diz. Penso que me entendeu: eu gosto de ensinar, não quero abandonar o que sempre considerei uma espécie de "missão" (sem sentido religioso, mas quase...)! Era o que eu sabia e gostava de fazer.
    Os livros e a cultura são o que considero mais importante na vida! Quis "contribuir" para isso.
    "Aposentada", refugiei-me neste blog, para continuar...
    os meus amigos dizem:"para que perdes tempo com isso? Ninguém quer saber..."; "escreve as tuas coisas, não percas tempo..."; ou: "o teu blog é demasiado pedagógico, é o seu defeito..."
    Felizmente oiço alguém que perceb as minhas motivvações (ou necessidades?)!

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