quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A cantora egípcia Oum Kalthoum e a minha amiga Hassnaâ

“-Saïdati, não queres ouvir esta música?, perguntava-me a Hassnaâ.

Hassnaâ era a minha cozinheira, em Marrocos.

Uma jovem mulher que tinha um discurso moderno e tinha pena de não ter estudado mais.

Vestia mini-saias e usava botas altas nos dias de saída, sonhava com a independência da mulher e queria escolher a sua própria vida.

- Por que não, saïdati?

Punha a tocar uma velha cassete que ouvíamos no aparelho, a pilhas, que já vinha dos meus tempos em S. Tomé e que eu lhe dera.

- É uma música antiga, dos velhos tempos. Da Oum Kalthoum.

Eu comecei a ouvi-la, distraída. Era uma voz forte. Impressionava. Na faixa impressa que envolvia a cassete a imagem de uma mulher alta e forte, de turbante e óculos escuros.

Senti de repente o fascínio daquela música, daquela voz.


A Hassnaâ que eu conheci era tudo isso: o encanto do espectáculo, o amor pelas telenovelas egípcias, o gosto da agitação constante.

- Saïdati, já conhecias a Oum Kalthoum?
- Não, Hassnaâ...
- E gostas?

Cantava enquanto ouvia a música, e ia dançando.

- Gosto...

Riu-se, contente. Como sempre, queria convencer-me a gostar de tudo o que ela amava.

- Ouve, saïdati...”

Hoje, de olhos fixos no écran, hoje, aguardando o discurso de Mubarak, pensava na Hassnaâ...

1 comentário:

  1. Eu também estou hoje muito tocada com o que está a passar no Egipto. Tive que desabafar no meu blog...Aliviou-me um pouco.Oxalá as coisas acabem de uma maneira satisfatória!
    Beijinhos

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