segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Lendo Penelope Fitzgerald...

Para a Ana, que me fez descobrir Penélope...

Descobri uma nova escritora, o que é sempre muito agradável. Uma mulher que começou a escrever já tarde na vida.  Falo do livro “A Livraria”, de Penelope Fitzgerald, que fala da vida duma comunidade numa terrinha do Suffolk.
Uma história simples: a de Florence Green, que decide abrir uma livraria num canto perdido da Inglaterra, numa vila costeira.
Compra uma velha casa que se considera “assombrada”, a Old House, onde se ouvem vozes e arrastar de móveis e as janelas se abrem de repente e o vento zune dentro aflitivamente...
“A vila em si era uma ilha entre o mar e o rio, resmoneando e fechando-se sobre si aos primeiros indícios de frio”.
As personagens têm vida, agitam-se nos seus interesses, na sua indiferença e maldade: a pequena Christine de dez anos que a vai ajudar, teimosa e convencida, que não gosta de estudar mas instaura várias regras na llivraria; o egoísta Milo North cujas emoções, “por falta de  exercício, tiham desaparecido quase por completo”, como bem observa Florence (ou Penelope?);  a convencida e “pérfida” Mrs Violet Gamart, o marido del, o General, que não tem coragem para se lhe opor, e cuja tarefa é “abrir as garrafas” lá em casa, que nos faz pena.  E o velho senhor Mister Edmund Brundish, um solitário que nunca sai de casa mas que, instintivamente, se sente próximo dela.

Que lhe escreve a encorajar esta decisão. “ No tempo do meu bisavô havia um livreiro na High Street que  deu com um livro na cabeça de um cliente demasiado irascível (...). Desde esse dia até ao de hoje, mais ninguém teve coragem suficiente para vender livros em Hardborough. Está a fazer-nos uma honra. ”
E a convida e a defende nesta sua aventura contra tudo e todos: a casa assombrada, a inveja dos habitantes, “estagnados” naquela vila. E a aconselha na escolha difícil: deve ou não comprar a “Lolita” de Nabukov para a sua livraria?
Os ódio e invejas, de alguns, o desinteresse de outros levam a que a sua livraria dure pouco tempo.
Tudo acaba, e ela deixa Hardborouhg um pouco amargurada. Pensando, filosoficamente que “uma terra  sem uma livraria é muito provavelmente uma terra que não merece ter uma livraria...


Penelope começou a escrever tarde, Florence abriu a sua livraria tarde.
Mas, o tempo ou a idade que importam? Importa que se tenham coisas a dizer. Parece-me que é o caso de Penelope.
Ou que se tenham coisas, de que gostamos, a fazer... 
Parece-me que é o caso de Florence.


Umas poucas informações  sobre a autora:
Penelope Mary Fitzgerald nasce em Lincoln, em 17 de Dezembro de 1916, é filha do ensaísta e humorista inglês E. V. Knox, editor da revista humorística "Punch", pessoa famosa nos seu tempo.
Estuda na Wycombe Abbey e depois no Somerville College, em Oxford.

Trabalhou na BBC durante a Guerra. Casou com Desmond Fitzgerald, um militar irlandês.Viveram em Battersea, na margem do Tamisa.



retrato de Mrs. Stillman, por Edward Burne-Jones


O  primeiro livro é uma biografia sobre o pintor Pré-Rafaelita, Edward Burne-Jones (1975).
Em 1977, sai o primeiro romance “The Golden Child”, um crime misterioso que envolve uma exposição de tesouros egípcios, num Museu de Londres.
Em 1978, publica “The Bookshop”, que fala da vida de  uma comunidade, no Suffolk, nos anos 50. Penelope trabalhou numa Livraria nessa região.
Em 1979 ganha o Booker Prize com o livro “Offshore”.
Seguem-se “Human Voices” (1980), “At Freddie’s” (1982), “Innocence” (1986), “The Beginning of Spring” (1988); “The Gate of Angels” (1990) e “The Blue Flower”(1996).
 Morreu em 28 de Abril de 2000.
(in Oxford Concise Companion of English Literature)

Sobre The Bookshop:

7 comentários:

  1. Já comprei "A Livraria", mas é mais um, no monte para ler...

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  2. Deve ser um livro interessante, fez-me lembrar La Casa de los Espíritus de Isabel Allende, que adorei.
    Também gostei muito do quadro de Burne-Jones,guardei-o para mim...
    Beijinhos

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  3. Vou procurar este livro :)
    um beijinho
    Gábi

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  4. MJ,
    Também gostei muito deste livro. Tudo se passa de uma forma ritmada: a bondade e a malícia, a esperteza e a inteligência. Gostei muito da sua visão,
    Bjs. :)

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  5. O importante, acho, é que se tenham coisas para dizer. E, muitas vezes, só a experiência acumulada da vida é que nos dá a sabedoria para poder dizer coisas com valor, coisas vividas, coisas experimentadas, coisas com sedimento e com cimento.

    Abraço

    Raul

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  6. Gostei imenso do livro, da história ou não fosse sobre uma livraria e sobre livros!
    Está bem escrito e prende o leitor até ao fim.
    Florence é uma mulher de coragem e mais não digo para não desvendar o mistério...

    Um beijinho terno para o Falcão

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