quarta-feira, 7 de março de 2012

Bocage, Marília e o Café Nicola...

BOCAGE E O NICOLA

Não posso deixar de vir – com “ternura” - brincar com o que acontece aos Poetas depois de mortos.

Dizia Bocage:

“Já Bocage não sou!  À cova escura meu/Meu estro vai parar desfeito em vento...”

Mas da cova escura ele vem encantar-nos ainda hoje com a sua poesia.

Estranho poeta, tão mal conhecido, no fundo! Quantas vezes se “sabe” dele, apenass que escreveu uns poemas “eróticos” (hoje o erotismo está na moda, é certo...).

Por acaso, há dias no  Café Nicola pensei nele.

Gosto muito deste Café de Lisboa! Faz-me saudades de outros tempos. E de certas amigas que por cá passaram há pouco.

Não que eu seja “saudosista”, nem viva – nem queira viver!- no passado! 
O dia de hoje é para ser vivido. E todos os dias igual, até ao fim, ao último “dia de hoje”...
Houve ontem e haverá amanhã. Mas é hoje o que me interessa! Sei lá que futuro vou ter! Será que nem tenho futuro?...

Não é de espantar que tenha pensado em Bocage: o Café Nicola tem uma série de “alusões” ao poeta, à vida do poeta, tem pinturas, tem lembranças.

Lá fora, muita gente passeia no Rossio. Era um sábado e a noite caía devagar, como se a Primavera tivesse chegado.

Turistas viam-se entrar e sair. A maioria ficava, porém, na esplanada, aproveitando a suavidade da noite. E vinham só espreitar o café, à porta envidraçada.

Estava sentada com uns amigos, olhava em roda e ia-me distraindo a pensar, um tanto chocada, com o que ia vendo.

Pobres poetas, nem eles sonham o que fazem deles quando são famosos!”
Por quê?, perguntarão os mais curiosos.
Num pequeno écran colocado no balcão perto da  entrada iam-se sucedendo imagens.

Viu-se o frontão da entrada do “velho” Nicola, os quadros que representam cenas da vida de Bocage, os candeeiros lindíssimos  “art nouveau”.
E, à mistura, poemas manuscritos do autor, o sentimento de amor, falando de Marília, Gertrúria, o Zéfiro vento...

“Só sinto que Marília rigorosa/Entre os braços de Aónio reclinada/Zombe da minha sorte lastimosa...”
Ou:
Ah! Crê, bela Gertrúria, que o primeiro/dia em que eu chore a tua variedade...”

E, de repente, que tinha eu visto passar, no tal écran


Um prato de "santola recheada" (ou sapateira?), logo, rápido,  um prato enfeitado com gambas e salsa, depois uma perna de presunto apetitoso, mais um prato com o célebre “bife à Nicola” com o seu ovo estrelado a cavalo...
E, claro, as inevitáveis “Amêijoas à Bulhão Pato”!

E voltam os versos: “Olha, Marília, as flautas dos pastores/ que bem que soam...”

O que diria Marília e os pastores mais as suas flautas? 

E o Zéfiro que soprava?  O que diria Elmano? Bocage, o nosso Elmano, se calhar sorria. Ele conhecia o mundo - e as suas fraquezas- melhor do que nós todos...


5 comentários:

  1. Tenho a certeza que o Bocage entre pena e pena fincava o dente no pernil de um bom presunto,e que o Nicola recorde os seus versos entre prato e prato, não está nada mal, depois de mais de 200 anos da sua morte. Quantos "matariamos" pelo privilégio de ser recordados alguma vez nesse café!
    Comeste um pastel de nata quentinho? Foi a primeira coisa que me veio à cabeça, ao saber-te sentada num sítio tão divino...
    Um beijo enorme, cheio de fome, de comida, de primavera e de tudo.

    ResponderEliminar
  2. Eu sei que tu achavas bem que ele comesse o presunto. Eu também estou de acordo.
    Pastelinho de nata quentinho? Nãããooo... Estou de dieta!
    Senão, só me posso ver ao espelho com a tal rosa da Duquesa!!!
    Bjs

    ResponderEliminar
  3. Bem, já me ri aqui com os comentários das duas.
    Mas a Maria João sabe que o pastel de nata é dos bolos que menos engordam? Pois é!
    E se estou a mentir, estou a passar como me passaram...Mas parece que sim, que é mesmo verdade.
    Sorte a minha, que adoro pastéis de nata.

    Gostei muito do post.Por acaso Bocage não é um poeta que prefira, talvez porque também não conheça muito.

    Um beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. MJ,
      Certos cafés têm um encanto especial. E, esse Nicola parece um deles. Aqui no Porto existem vários emblemáticos: o Magestic, o Guarany, o Embaixador,...
      Quem não tem recordações de bons momentos passados à mesa dos cafés?
      E, os referidos são tão bonitos!
      Beijinhos

      Eliminar
  4. Como essa imagem nos faz bem, nos encanta e esquenta a alma.

    obrigada por todos os dias, obrigada por ser essa mulhere que tanto trouxe de bom em nossa cozinha, em nossas vidas.

    bjs nossos

    http://cozinhadosvurdons.blogspot.com/2012/03/mulher-rromi-cigana.html

    ResponderEliminar