quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

E as estrelas olham-nos lá de cima...


 Morreu  aos 79 anos Ceija Stojka. Quem era?  Por que falo dela? 

Eu não a conhecia nem de nome, apesar de ser (como vi hoje no blog “cozinha dos vurdóns”) uma grande pintora  - com desenhos "naïfs de um dramatismo profundo e de uma delicadeza e cor fantásticos!

Ceija era uma ROMANI, Rom, cigana, gitana, gypsy, etc. Tudo isso. 



E mais... 

Ceija esteve nos  campo de extermínio. Em Auschwitz, Bergen-Belsen  e Ravensbruck...

Da sua família que constava de 200 pessoas foi a única sobrevivente.
Escreveu, falou, pintou. Deixou-nos o seu sorriso. 


Apesar de tudo...


Morreu, mas a sua passagem é como a dos anjos e vai estar numa estrelinha a olhar-nos... 
Edward Burne-Jones, as ninfas das estrelas

E a ver o que pode fazer pelos seus "ROMANIS"! Que repouse em paz esta menina...


O ratinho procura distracções...

Já me perguntaram por “eles"...
Estão tão calados, o que andarão a fazer? Hibernaram? Ou preparam alguma malandrice?
Bem, a verdade é que, com o Inverno, andam deprimidos. Não, não hibernaram, eles não hibernam nunca, mas aborrecem-se muito em casa!


O Inverno tem sido duro por tantas razões, não é? 
Parece que os portugueses andam a tomar demasiados ansiolíticos, drogas várias, ou antidepressivos. Pensa-se mesmo em aumentar o preço do álcool como medida para "evitar" suicídios...O Ratinho um dias destes veio dizer-me  esta: "Parece que o português quando está mal - ou bebe, ou se suicida..."
do pintor russo M.V. Nesterov, "Retrato do artista"

Que responder? Aqui por casa, os amigos não tomam nada disso. Bem, que eu saiba...Sei lá se tomam? Ninguém os consegue controlar, são imprevisíveis!
Mas o humor é ligeiramente peregrino. Gosto desta expressão "humor peregrino"! Talvez por me lembrar do falcão peregrino... O falcão voador!



Vai longe o Natal e o dia do Ano Novo. Ah! Disso eles gostaram!

a Natasha, a girafa africana

- Tanta gente cá em casa! , disse logo o ratinho quando o Diogo chegou. Assim é que e bom! E vamos a casa da Gui!
Virava-se para o ouricinho à espera do apoio dele.

- Tu não achas, Dan?
-  Eu cá acho! E a Gui, loira, fica bem... E a Natasha?! E a casa dela tão bonita!
Gostaram de ver a lareira acesa e as luzes. Riam-se, contentíssimos:

- Viste a mesa, Ratinho? Que bom andar dum lado para o outro!

Era o Ouricinho. E o Ratinho, logo:
- Pois é, mesmo bom! Estamos sempre fechados entre quatro paredes...
O Ratinho é por vezes um grande “queixinhas”. Fiquei um pouco sentida por falar assim da nossa casa.

Ele notou e acrescentou.
- Ficaste triste?  Não gostaste? A nossa casa também é linda! E bem enfeitada por ti...
- Sim, Ratinho Poeta!...


Não valia a pena amuar por coisa tão insignificante. Eles eram crianças, e, por isso, gostavam da variedade e da mudança. Se calhar, eu é que estou a ficar velha e só me apetece o cantinho quente do meu sofá, onde me sinto protegida de todos os males do mundo.

- Querias mais champagne, não?


Olhava-me com ternura. Senti-me pequenina também e pus-me a rir às gargalhadas porque a verdade é que eu gosto muito de champagne!




No dia seguinte, fomos a Cascais ver o presépio armado ao pé do  campanário, que tinha um anjo muito bonito! E as ruas enfeitadas e o carroussel pequenino que tem música! E a árvore de Natal tão alta entusiasmou-os...


E vimos a “Roda da  sorte”, na praia dos Pescadores. Passeámos à beira-mar, vimos os barcos, as águas plácidas da baía. O mar ali à volta estava de uma beleza espantosa!


- Olha a "roda da sorte"!, disse o ouricinho.
 Hesitou.
Ou chama-se a "roda da vida"?...
O Ratinho respondeu-lhe, com ar decidido e filósofo:

- É a mesma coisa... Vida e sorte, sorte na vida...Eu gostava era de subir lá ao alto!

Eu também! Mas há sempre quem não esteja de acordo e eu e o ratinho ficámos com pena. Lembrei-me duma viagem no “Water-shoot”, no Porto, ainda era miúda. 

Era uma "Montanha Russa" que descia vertiginosamente até à beira da água... Uma sensação assustadora, é certo, mas era um "medo" bom...



As luzes acenderam-se e havia um ar de festa muito agradável.
Pois foi, mas quando as festas acabaram, os amigos começaram a entristecer. Aborreciam-se...

De repente, esqueceram-se das festas e voltaram a saltitar pela casa toda. São assim instáveis... Voltaram a ir investigar tudo, com os outros companheiros que aparecem ou desaparecem conforme vão os tempos e as amizades do momento...




Mas, quando chegou a chuva torrencial, foram pôr-se à janela do meu quarto, no seu poiso preferido.
A caía, riscando os vidros como continhas de vidro. Começou a soprar o vento muito forte e as árvores abanavam parecendo dar grandes suspiros. 

- Vem cá ver! Estão a gemer as árvores!, disse o Ouricinho. E eu fui. Era um espectáculo fantástico! E pareciam gemer os ramos vergastados pelas rajadas de vento.


- Se calhar, o vento faz doer... A Natureza não brinca e nós somos pequenas coisas. 
Mesmo as grandes árvores! Quantas são abatidas pelos temporais...
Oh! Como fala bem o meu Poeta! 
Whistler, ondas altas

- E o mar, continuou ele, preocupado. Como estará o mar com esta ventania! E os barcos se se perdem?


Depressa  tiveram medo do vento.
- Tão forte o vento! parece um furacão!, assustou-se o Ouricinho.
- Viste o que abanam as árvores?, perguntava o Ratinho. Tão frágeis... Parece que vão cair!

E o ouricinho perguntou-me, receoso:

- Achas que caem? Para cima dos carros que ali estão?
- Não, acalmei-os, têm raízes muito profundas...

Mas sabia quantas tinham sido arrancadas pela raiz,  país fora.

- Felizmente puseste o teu carro do outro lado, comentou o Ratinho sempre atento.
Percebi bem que tenham preferido ir para a sala e esconderam-se debaixo de uma almofada. Descobriram a música ali ao lado do sofá, e foram ouvir os meus CDs de Jazz. E Rock...
ointura de John Lurie

- Os Lounge Lizzards? Rock alternativo? Lizzards? São "lagartos"? Estes falam de pássaros? "The birds near her"!





O Ratinho ouviu - e gostou. 

- É saxofone?
- É um pouco de tudo..., respondi.  É uma "banda" de Jazz.
- E estes desenhos da capa e quem são?



Mostrei-lhe uns desenhos feitos pelo saxofonista John Lurie.


- Giros!, disse o Poeta entusiasmado. O que ele gosta de pintar animais como nós! Que engraçado!


- Mostra lá...

Era o Ouricinho curioso de tudo o que o amigo faz...


 Ontem estavam a mexer no meu cesto da costura: fitas, linhas, tesoura... Até o dedal com a princesa Diana ( a Lady D...) que comprei em Londres!
tesoura e dedal...


O Ratinho tinha o ar de um Maestro de Alta Costura, mas o Ouricinho estava deitado de pernas para o ar, com uma fita de cetim verde ao pescoço a fazer de cachecol. 

Não sei mesmo se não haveria ali alguma provocação ao benfiquista cá da casa.


- Estás tal e qual o Karl Lagerfeld, de cachecol!, troçou o ratinho. Lembra-te que és só o meu ajudante!

Sem lhe responder directamente, o ouricinho comentou:
- Lindas fitas que aqui tens... Ficavam bem à Audrey, que é a actriz mais elegante do cinema...


E, logo, o Ratinho:

- Hahaha! A Audrey! Tens razão! Por causa da latinha dos chocolates...

E, virando-se para mim, terno:

- Tu também és elegante...Vamos fazer-te um laço para o Carnaval! Queres?
- Quero!

E mostrei-me entusiasmada com a ideia. Talvez ficasse parecida com a Audrey! Era bom era...


Coisas do Poeta... Bem, coisas dos dois!