terça-feira, 30 de abril de 2013

Primeiro de Maio é o Dia Internacional do Trabalhador! As papoilas de van Gogh ajudam a festejar...

Fui buscar umas papoilas emprestadas a Van Gogh... e ao maravilhoso Charlie Chaplin e aos italianos...



Van Gogh e "trigais" (1889)



A verdade é que, em Portugal, antes do 25 de Abril, o Dia do Trabalhador não se podia comemorar. Todas as manifestações alusivas a essa data, no tempo do Salazar e de Caetano, eram proibidas e qualquer pequeno ajuntamento era duramente  reprimido pela polícia.


25 de Abril e Salgueiro Maia

o primeiro 1º de Maio, no Porto, data histórica!

Dá vontade de perguntar como começou este dia especial?

1º de Maio de 1974

Sim. Como foi criado o 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador?

Em 1886, no dia 1 de Maio, realiza-se uma manifestação de trabalhadores em Chicago, que recusavam a jornada  de trabalho de mais de 8 horas e reivindicam a diminuição do número de horas de trabalho. 


desenho de Vincent Van Gogh

Protestam, pois e  e fazem greve geral  em todos os USA. 

A participação é imensa. Em dado momento, a polícia intervém e há alguns feridos dos dois lados.

A 4 de Maio, os trabalhadores reúnem-se de  novo, há novos protestos, escaramuças, a polícia dispara e o resultado é haver vários mortos.
Primeiro de Maio (2009) e,à direita, imagem dos "Haymarket Riots", em Chicago, 1868


Esse dia ficou conhecido como a Revolta de Haymarket.

"Trabalhos no campo", desenho de Van Gogh

Para assinalar essa luta, existe em Chicago, um monumento e uma placa que recorda o lugar onde esses manifestantes morreram. 


Uma papoila, de Natalia Ova (in Facebbok)


É o Memorial dos Mártires de Chicago. A placa recorda esse dia, com uma frase:

 “Um dia o nosso silêncio será mais forte do que as vozes que hoje nos estrangulais!”


Viva o Dia 1º de Maio! Em liberdade! Por enquanto, em liberdade...

Post Scriptum:

 Depois das minhas palavras edificantes, a falar de tantas lutas, de tantas conquistas, tenho vontade de desabafar:

Onde estão, onde foram parar os benefícios conquistados, à custa de sofrimento, greves, dureza e teimosia?



imagens de L.S. Lowry (Laurence Stephen Lowry)

Onde estão as 8 horas, hoje? Trabalha-se cada vez mais...




Quantas oras (perdidas) trabalham os chamados "trabalhadores"? E quantas "extraordinárias não pagas? 



Onde vai a luta por um ordenado justo e decente? 

A Justiça, escultura de um escultor brasileiro

O ordenado mínino é "decente"? Como vivem certas famílias? Em que casas? As casas que perderam alguns? 

E as mães o que poderão dar de bom aos filhos?

janela, L.S. Lowry


McEvoy, mãe e filho

E, pior, ainda: onde está o trabalho para os trabalhadores?????


..


Imagens de Lowry, pintor inglês, que fala das vidas duras dos homens-fósforos

Lowry, pintor inglês do século XX, "pintou" os homens-fósforos, pequeninos, a correr dum lado para o outro, para o trabalho, para casa. Corrida hoje sem meta, nem sentido...

Resta-nos a esperança. E as flores de Maio...
manhã de Maio


Deixo-vos esta "esperança" que até é uma bela imagem de  Watts... Um pouco azulada e de olhos tapados... À espera.


The Hope, Friederich Watts

Mais sobre os pintores ingleses de que falei atrás:



Ensinar a Moral laica nas escolas! Vai acontecer em França.

fotografia tirada do jornal Le Monde

 Introduzir o ensino da Moral laica (que é o mesmo do que ENSINAR A Ética...) nas escolas seria uma boa medida! Coisa de aconselhar por cá também! É a medida apresentada em França (ensino ministrado uma hora por semana) defendido pelo ministro da Educação, o socialista Vincent Peillon, professor de Filosofia e ex-deputado europeu, ligado desde sempre à educação.


Porque é útil, claro, e porque,  independentemente da religião e das escolhas pessoais de cada um, é partilhar a cultura comum - atitude necessária ao cimentar de uma sociedade.
Uma moral “laica” - porque não sujeita a qualquer tipo de religião ou preconceito- promoverá os valores da tolerância, da justiça, da cooperação, da solidariedade e ajudará a criar um código comum dos comportamentos aceitáveis. 
É fundamental para se viver em boa harmonia. Houve quem se  interrogasse se não seria melhor falar de “instrução cívica”, mais própria ao ensino. 
No entanto, penso que isso é apenas uma questão de terminologia: o que interessa é a base da medida adoptada.
Que é o ensino comum, não religioso, dos valores que levam várias  comunidades diversas, com costumes diversos, religiões diversas, a viver em paz, no seio de outra comunidade de acolhimento.

Isto é: a tolerância, a aceitação da diferença do outro, é  a aprendizagem de uma Educação interior e exterior...

solidariedade e seus problemas na prática

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Eu adoro Jazz! Lembrando o grande "jazzista" Duke Ellington! É o dia do seu aniversário...


livro sobre jazz, à venda na Livraria Lumière


Edward Kennedy “Duke” Ellington nasceu em 29 de Abril de 1899 em Washington e morreu em 24 de maio de 1974, em Nova-Iorque.
túmulo de Duke Ellington


Grande compositor e pianista de jazz. Foi também um director de orquestra notável. 

Chamaram-lhe The Duke e com esse nome ficou na memória dos que amam jazz. Em 1969 recebe a condecoração mais importante da Améruca. A presidential Medal of Freedom. 

E, em 1973, recebe a famosa condecoração francesa "La Légion d’Honneur", Quaisquer das duas distinções são as mais altas para condecorar um civil. 
Mais tarde, entrou para a Academia Real de Música de Estocolmo: o primeiro músico a entrar. 


Além disso, foi “doutor” honoris causa, nas mais importantes universidades do mundo.
a estrela de Duke, na Fame Avenue


Parabéns, Duke! Deixo duas das suas interpretações-criações... As mais belas, para mim, claro! 
(Ah! Ouvir "Sophisticated Lady" cantado por Billie Holiday é outra maravilha do mundo!)

domingo, 28 de abril de 2013

Um pouco dos belos versos de Cesário Verde, "apresentados" por Gaspar Simões...







Como disse João Gaspar Simões:

 “Cesário Verde cria em Portugal a poesia do concreto, do vulgar e do quotidiano. Valoriza poeticamente a linguagem por que se designam as coisas concretas. (...) Duma paisagem, duma máscara humana ou cena social, sem pormenorizar, consegue apreender um certo espaço da natureza. (...) A realidade é o seu leit-motiv. Teve o dom de surpreender a vida.


João Gaspar Simões


Ora leiam...


Andorinhas, vitral de Cesare Picchiarini




"Nas nossas ruas, ao anoitecer
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-nos, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.




Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.



Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.



E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro, a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Carlos Botelho, Barcos no rio

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!


Abel Salazar, Vendedoras no Mercado do Anjo

Vazam-se os arsenais e as oficinas,
Reluz, viscoso, o rio; apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!


Varinas de Lisboa,foto de1900


 Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
um barco na tormenta, por Dagane

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!”

(in Sentimento de Um Ocidental)