terça-feira, 9 de abril de 2013

Patricia Cornwell, Kay Scarpetta e o mal...

Patricia Cornwell


fotos de Richard Dumas retirada do jornal Le Monde


Patricia Cornwell é uma escritora policial americana que aprecio bastante. 


Acho que escreve bem, é directa, bem informada e Vai ao fundo dos problemas humanos e sociais– até de mais!



É impiedosa na análise das situações que nos apresenta, e são violentas as sensações que nos provoca. Fala da agressividade escondida, dos males das psiques perturbadas. 

Dos perigos que decorrem por não se tratar esse mal, ou considerá-lo passageiro. Ou por querer a família esconder a "tara" do doente...


o caixote onde guardo Patricia Cornwell e Ruth Rendell

O “mal” (the evil) que pode coincidir com uma existência aparentemente pacata, tranquila e, até dado momento, inofensiva.
banca de livros policiais, Livraria Galileu


Aparentemente. Porque o mal espreita detrás dessa fachada de inocência, onde se esconde a ambiguidade das vidas, os recalcamentos, as taras, os traumas infantis, os ressentimentos e as frustrações, as ofensas da vida.





foto de Richard Dumas "fotografada" do jornal Le Monde

E um dia tudo explode, nessa cabeça e nessas existências doentes. E mal de quem estiver por perto, mal de quem despoletou essa loucura, mal de quem canalizou esse ódio...


Companhia das Letras

Patricia Cornwell nasceu em Miami, em 9 de Junho de 1956. Era descendente da escritora americana Harriet Beecher-Stowe, escritora  "abolicionista", que escreveu o famoso livro "A Cabana do Pai Tomás" que me lembro de ler numa velha colecção.


Harriet Beecher-Stowe


Patricia teve uma infância difícil, traumática, com a separação dos pais quando tinha 5 anos, um pai brutal e violento e uma mãe em constante depressão. Acabou na Assistência Social e aprendeu cedo a negligência da sociedade (neste  caso a americana) no que diz respeito às vítimas de violência.




Sofreu, ao longo da vida, de bulimia, anorexia, alcoolismo e depressão.

Escreveu algures, há pouco tempo: "Sinto-me ultrajada pelas injustiças."

Formou-se no Davidson College, em 1979, em Literatura Inglesa. Muito cedo escreve para o jornal -The Charlotte Observer- contos policiais e artigos. 


Editorial Presença - Policial



O primero livro intitulado "Post-mortem" é publicado em 1990, após ser rejeitado por 7 grandes  editoras. Mas, depois de publicado, ganhou uma série de prémios: o Edgar, o Creasey, o Anthony e o Macavity Awards.

Kay Scarpetta é a sua "mulher-herói", protagonista da maior parte dos seus livros. É a médica-legista de Richmond. Professora e especialista em Medicina Legal.


Richmond (Virginia)


A Dra. Kay Scarpetta, é a Chief Medical Examiner, mulher ameaçada vezes em conta pelos serial killers de passagem nas suas histórias.

E os seus amigos da sua equipa, na Academia Forense da Florida, são o psicólogo Benton Wersley , o tenente Pete Marino, Lucy, a investigadora, sua sobrinha - que aparece na primeira história com 10 anos e que vamos vendo crescer, estudar, até pertencer também ao grupo. 

Trabalham com tecnologias avançadíssimas no  campo da investigação criminal.

De ascendência italiana, nos seus momentos de stress, é a cozinhar que se alivia e esquece os problemas e as ameaças...

Em 1999, Scarpetta ganha o Sherlock Award que premeia o melhor detective!

Encontrei algumas traduções na Editorial Presença (Portugal) e na Companhia das Letras (Brasil).







 ENTREVISTA COM PATRICIA CORNWELL, NO JORNAL "MONDE" ...

Em 9 de Abril de  2011, exactamente há dois anos, o “Monde” fez-lhe uma entrevista (na secção Décryptages/Découvertes). 

Assina-a Josyane Savigneau, conhecida jornalista cultural. Guardei “religiosamente” a página do jornal e, há dias (!!!) descobri-a.

Mesmo a tempo, pois já tinha começado a escrever sobre Patricia Cornwell.
violência e futuro..."Blade Runner", de Riddley Scott


Josyane Savigneau começa a entrevista, perguntando:

Post-mortem saíu em 1990, como viveu o sucesso destes últimos 20 anos?

- O começo foi difícil, o sucesso chegou lentamente. Tinham-me recusado 3 manuscritos –e com razão. A legista Kay Scarpetta era uma personagem secundária e não trazia nada de verdadeiramente novo. Depois fiz dela a heroína. 
No entanto "Post-Mortem" só teve uma edição de 6.000 exemplares. O editor não protegeu o livro, mas eu tinha a sensação de que esse romance ia mudar muito na literatura policial.”

No entanto -intervém a entrevistadora, J.S.- o herói,  já não é agora detective, mas médico-legista, o que é hoje muito “usado” sobretudo nas séries televisivas...

- Mais do que tudo, eu estava contente por ser publicada, e pensava que já me sentiria feliz se tivesse alguns leitores. Mas "Post-mortem" não entrou na lista dos best-sellers. Veio mais tarde. Mas com a segunda investigação de Scarpetta, esta heroína médica-legista, criei um novo género. Uma via que outros seguiram.


Eu nem sabia escrever livros policiais, lia poucos excepto os clássicos como Agatha Christie. Quando saí da Universidade, fui jornalista e tive contactos com a Polícia e foi isso que me levou a interessar por livros policiais.”
(...)

Interessa-se também pela investigação em psiquiatria. O que faz no Hospital Psiquiátrico Mc Lean, ligado à Universidade de Harvard?

- É um hospital psiquiátrico de cuja conselho nacional  sou membro, e que faz investigação em campos apaixonantes aos quais apoio. Pertenço,  além disso, a outras instituições ligadas à medicina legal, trabalho que admiro e sempre procuro ajudar na medida do possível.

Não foi apenas por ser jornalista que se interessou pela violência e pelas vítimas...

- Há raízes mais profundas, especialmente na minha infância, em que fui rejeitada. Mais tarde, violentada, maltratada. Tudo isso nos pode levar a ser violentos, a reproduzir essa violência sofrida. Ou pode levar-vos a melhor compreender o que sente uma vítima, como deve ser tratada, como foi psicologicamente ferida para sempre, em muitos casos. Mas foi como repórter da polícia que melhor compreendi muita coisa.

Parece ser muito crítica em relação à sociedade americana...

- Acho-a uma sociedade horrivelmente violenta Que mundo é esse onde todos pensam que têm o direito de ter uma arma? Sem licença. Quando se em uma arma, uma pessoa vai sempre, num momento ou noutro, servir-se dela. A posse da arma incita ao crime. (...)

Há quem refira que tem medo que procura viver num ambiente securizado, é verdade?

- É verdade, tenho medo de muitas coisas. Vi tanta, tanta violência, tantos crimes! O que não significa que eu não seja corajosa, mas tenho medo. Quando guio a moto, por exemplo. Mas não é isso que me impede de a guiar. Mais do que alguém medroso eu sou uma pessoa vigilante. Porque conheço a violência, vi-a de perto. Anticipo o que me pode acontecer, e tento premunir-me contra isso.

O novo livro de Scarpetta ("Havre dos mortos") parece ser aterrador. Por quê?

- Pelo que conto das novas tecnologias, do neuro-terrorismo sobretudo. (...) No passado de Scarpetta ela vai aparecer-nos como a jovem de uma família modesta que –como tantos-  entra para o exército para ter os estudos pagos.

fotografia em 2011

Por isso, Interessei-me pelos aspectos militares, em Dever, por exemplo, na base do Delawere que, desde a Guerra do Iraque, recebe os corpos dos soldados mortos na(s) guerra(s). Aí existe o Port Mortuary” onde ninguém, fora dos serviços, pode entrar. Mas pude saber muita informação para escrever esse livro. Por exemplo: ali fazem-se autópsias virtuais, onde se pode ver o corpo inteiramente antes de o abrir. 

Parecia-me indispensável que Scarpetta soubesse disto tudo. Tanta técnica desenvolvida recentemente, a nanotecnologia mais avançada, os robots flyboats e tanta coisa aterradora, nas quais preferimos não pensar.”

(Le Monde, de 9 de Abril, 2011, p.24)~

O último livro de Patricia Cornwell saiu em 16 de Outubro 2012 e intitula-se "Bone Bed" (Cama de Ossos...).



Sobre Patricia Cornwell:




para os fans de livros policiais:




Livros que aconselho : 

Post-Mortem, 1990
Body of evidence, 1991
All  that remains, 1992
The Body Farm, 1994
Southern Cross, 1998
Predator, 2004
Scarpetta, 2008


2 comentários:

  1. Gostei dos livros que li dela publicados pela Presença, mas de livro para livro parecia que iam ficando cada vez mais escuros.

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  2. Acho sempre muito interessante a forma como fala dos "seus" policiais, um género que cada vez mais me desperta vontade de ler.
    Já vi esta escritora nas livrarias, mas não tenho nada dela.
    Um beijinho grande
    (Chegou hoje o meu livro "O Romance de Genji", mas segundo o que estive a ler é apenas o primeiro volume - 845 páginas. Há um segundo volume, mas não sei se chegou a ser publicado em português. Tenho que descobrir, porque queria o romance completo. Este é a Primeira Época Completa. No site da Wook, onde o pedi, não me apercebi que houvesse outro volume.)

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