terça-feira, 23 de abril de 2013

Um cientista e humanista, François Jacob, morreu há dois dias...



François Jacob, em 1997

Morreu há dois dias (em 21 de Abril) François Jacob, Prémio Nobel da Medicina/Fisiologia em 1965, Prémio esse que partilhou com outros dois cientistas de igual valor: Jacques Monod - autor do livro "Le hasard et la nécessité" (1970)-  e André Lwoff. 

 Jacques Monod (1910-1976)



"Premiados pelas descobertas relacionadas com o controle genético da enzima do vírus de síntese."


Nascido em 1920, grande apaixonado pelas letras e pelas palavras, estuda medicina. Mas a guerra estala e os horizontes mudam.

Anti-fascista e judeu, quando os alemães entram em França, em 1940, vai ter a Londres com o Exército de Libertação do General de Gaulle. 

Jovem estudante médico, combateu no norte de África e  participou no desembarque na Normandia onde foi gravemente ferido, o que lhe vai impedir vir a ser cirurgião, como tencionava. 

Vira-se, então,  para outros campos da ciência.
Doutora-se em Medicina em 1947. Interessa-se pela biologia e pela genética, estuda a hereditariedade.

Investigador no campo da genética e da biologia molecular, entrou muito novo para o famoso Instituto Pasteur, de Paris, onde, em 1960, dirigirá Serviço de Génétique Microbienne.


Trabalha sob a “protecção” de André Lwoff, com outro cientista, Jacques Monod - mais velho do que ele dez anos. 
André Lwoff (1902-1994)



Instituto Pasteur, Paris

Liga-os a partir daí uma grande amizade que durará toda a vida. No trabalho, nunca a menor inveja ou ciúmes do sucesso de um ou de outro os afastou em nada.

Seguem os dois a “aventura da revolução molecular” que iria transformar completamente a maneira de se considerar de se estudarem  os seres vivos, o seu funcionamento e a sua evolução.


Guardou sempre dessa sua entrada uma recordação inolvidável, como costumava contar.

“Esta biologia", explicará anos mais tarde, "nasceu de decisões individuais de um pequeno número de cientistas, entre finais de 1930 e princípios de 1950.  

Ninguém os empurrou nessa direcção, nem os obrigou a nada. Pelo contrário, foi a curiosidade de cada um e uma maneira nova de considerar os velhos problemas que conduziram esses homens e mulheres a resolver o problema da hereditariedade.”

No seu discurso de entrada para a Academia Francesa em 1997 diz: 

“Somos feitos de uma estranha mistura de ácidos nucleicos e de recordações, de sonhos e de proteínas, de células e de palavras.”

Porque era um homem culto e um humanista...

O maravilhamento com tudo o que descobria, na cadeia evolutiva, dos"genes do desenvolvimento”, refere Catherine Vincent - que assina o artigo de Le Monde onde me baseei.

E o seu livro de 1997, "La souris, la mouche et l'homme", onde está patente também a inquietação pelas derivas éticas que possam advir de certas manipulações.


Coisas que ele receia não por parte de cientistas pois, segundo, ele os massacres da história devem-se mais a religiosos ou homens políticos do que a cientistas-loucos como os "Fankensteins" ou "Strangeloves"...Gene Wilder e Frankenstein Jr. de Mel Brooks
um extraordinário Gene Wilder em "Frankenstein Jr.",  de Mel Brooks


um maravilhoso Peter Sellers, no "Dr. Strangelove" de Stanley Kubrick


Deixo mais uma passagem do discurso que atrás referi (14 de Novembro de 1997, discurso de recepção na Academia das Ciências.):

"Todos os seres que vivem nesta terra, seja qual for o seu meio, o seu tamanho, o seu modo de vida, trate-se de um molusco, uma lagosta, uma mosca uma girafa ou um ser humano, todos eles são compostos de moléculas mais ou menos idênticas. (...) 

Todos os seres vivos aparecem pois constituídos pelos mesmos módulos que foram distribuídos de maneiras diferentes. O mundo vivo é feito de combinações de elementos em números finitos e assemelham-se aos que são produzidos num gigantesco  jogo de “meccano”, resultante de um incessante trabalho de evolução.” 

um jogo de “meccano” de 1954


“Não gosto da separação entre das culturas, a cultura literária e a científica, por isso escrevi este meu livro”. Referia-se ao livro  “A estátua interior”, livro que é a sua autobiografia, onde se misturam a infância, a família, as emoções, a guerra, a paixão pela ciência, as polémicas e os momentos de solidão. 
Ou o medo da velhice - de tudo ali fala.

http://eueoslivros.blogspot.pt/2012/03/estatua-interior.html

http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1965/


Obras:

“La logique du vivant” (1970)
Lejeu des possibles (1981)
“La Statue Intérieure” (1987)
"La souris, la mouche et l'homme" (1997)

4 comentários:

  1. Gostei de ler. Vou espreitar mais na net.
    De tudo o que li, o que para mim sobressaiu, foi o facto de dizer que trabalhou com os colegas, com amizade e sem invejas.
    Esse é um comportamento de pessoas superiores. A mesquinhez não combina com elas.
    As invejices não levam a nada, só corrompem.

    Um beijinho grande

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  2. Saudações Mrs. Falcão e uma vez mais receba infinita paz deste que além mares de louva em agradecer por dividir seu tempo, carinho e dedicação a mortais assim como que escreve. Dizer algo sobre o acontecido do PC e sua complexa rede de funcionalidade é uma questão ímpar, já que cada caso é uma questão a parte mas digo pela experiência de programador que exerço o uso de um bom arti-virus que tenha "FireWall" de rede e monitoramento 24 horas. Confesso que isso me auxiliou e muito na questão supracitada ate o presente momento – Recomendo. Grato pelas digas literária, as aventuras do Mr. Ratinho Poeta, por colocar meu blog no mural e prestigiada companhia. Permaneça na paz e ate breve – Namaste.

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  3. Não deixaremos morrer

    os nossos mortos

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  4. Menos mal que os homens de talla superior são indiferentes ao reconhecimento das masas, encontram a sua satisfação pessoal no que conseguem descobrir para bem de todos nós, sem importar-lhes nada que só uma elite seja capaz de apreciar a sua valia!
    Estou a pensar em escrever algo sobre Pierrot, graças a ti. Obrigada pela inspiração, fazia-me falta.
    Beijinho

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