domingo, 30 de junho de 2013

A viagem a Porto Covo I : “Há mar e mar, e eu cá gosto deste”, disse o Ratinho Poeta!



Desta vez, levei-os de passeio até Porto Covo!
Tinha de ser... Não me atrevi a deixá-los em casa depois do desgosto que tiveram da última vez... 

Lá fomos todos então!

Andámos à procura da Ponte Vasco da Gama mais de duas horas. Era um domingo e havia uma corrida de ciclistas junto ao mar, perto do Cais do Sodré.  Tivemos que voltar para trás até  Alcântara. 

Voltas e mais voltas, perdemo-nos: nem o GPS ajudou! 
Andámos perdidos até chegar a Chelas! Sabem onde é Chelas? Eu não sabia. Mas foi um senhor em Chelas que finalmente nos indicou o caminho para a ponte!

E lá estava a ponte na sua elegância e na sua delicadeza: como um sonho quase, a atravessar o Tejo, por quilómetros e quilómetros (dezassete kms e tal), juntinha às águas do rio.



Estrada do Alentejo fora, lá fomos. Desta vez não para Portalegre, ou Marvão, no interior escaldante, mas para o litoral, à procura do mar alentejano!


Paisagens de pinhais, campos de sobreiros, a serem descascados, alguns já com metade do tronco em carne viva. 




E as azinheiras de ramos mais suaves, braços abertos... Eu gosto das azinheiras! Até porque sempre gostei de bolotas.
Não havia, claro, no Verão não há, se não tinha ido buscar umas para o Ratinho e para o Ouricinho provarem.


Ah! o que eu gostava das bolotas que a Florinda nos assava na braseira! O cheiro maravilhoso, o gosto adocicado que elas tinham. Inesquecível tudo isso!
Continuámos estrada fora.
As searas viam-se ali perto, mas seria trigo?



Havia, isso sim, enormes rolos de palha amarela, para o gado, a lembrar os quadros de Van Gogh! O céu azul e o sol a queimar.


E a paisagem ia mudando. O Ratinho empoleirado na parte interior, junto ao vidro, olhava para tudo de olhos bem abertos. O Ouricinho, esse, tinha adormecido, talvez por causa do fresquinho do ar condicionado.

Campos sem culturas desfilavam agora ao nosso lado. A verdura das veredas junto à estrada, contrastava com a secura dos campos. 
À medida que nos aproximávamos do mar, surgiam os cactus, os figos da Índia , sem figos maduros ainda, as colinas suaves dum lado da estrada, o mar a correr lá ao fundo, do outro lado.

- Isto é o Alentejo?, espantou-se o Ratinho. Com mar?!

E repetiu:

- “Isto”, com mar, é o Alentejo? Não dizias que são “campos, campos, campos” a perder de vista, como no poema? Aqui há pinhais, areia, estevas, cactos...


- Ó Ratinho, o Alentejo estende-se por aqui abaixo, esta é a costa que vai até ao Algarve. O Alentejo não é só campos, tem mar, em pescadores...
- Essa é a maior! Imaginava ir ver as searas loiras, como tu nos contavas, as ceifeiras a ceifar com seus lenços cruzados e atados atrás do pescoço, por causa do sol ardente! Afinal...

O Ouricinho espertara com a conversa e já se empinara no braço da poltrona, e trepou por ali acima, até chegar ao lado do Poeta.

- O quê? O quê? Não ouvi tudo... Onde é que estão as ceifeiras?
- Não estão... Nem os ceifeiros do Van Gogh, a dormir a sesta..., ironizou.


O Ratinho falara quase secamente. Desiludido? Talvez não, talvez achasse que eu o tinha enganado. A verdade é que decidíramos partir à pressa e nem lhes expliquei o que era Porto Covo, nem a costa alentejana.

- O quê? Não há ceifeiras? No Alentejo e no Verão? Devia haver, não é?

E o Ouricinho virava-se para o Ratinho, à espera que ele explicasse tudo. Tinha muita confiança no amigo, achava que ele sabia muita coisa, e respeitava-o.

- "Isto", pelos vistos, é o litoral alentejano, disse ele, simplesmente. É a parte do Alentejo, a zona transtagana que corre junto ao mar.

- Ah! O Alentejo é grande!

O Ouricinho Dan estava entusiasmado.

- Pois é, acrescentou o Ratinho. É toda a parte que está abaixo do rio Tejo até ao Sado, não é?

Ri-me. Ele não esperara a minha resposta e já estava a ver a paisagem.


- Que lindo porto! O que é?
- Sines...

Parecia-me tão diferente das outras vezes. Estava a marginal em obras, máquinas por toda a parte e poeira, tanta poeira...

- Não gostas?

O Ratinho observara a minha expressão de tristeza.

- Gosto muito! Só que me parece mais feio hoje...

Logo o Ouricinho, a animar-me.

- É das obras! Mas o mar é lindo! E tem belos barcos! Já viste? ...
- Pois é, confirmou o Ratinho, obras, e tudo estragado. Pó, barulho...
- Obras são assim, não é? Bem, é normal, estão a arranjar o porto, não é? Mas vai ficar como novo! Não é?

O Ouricinho espreitava por detrás do amigo e já não largava a conversa, com o seu “não é?” que descobrira há pouco.

Tivemos que voltar a subir até Sines, procurar outro caminho...Porto Covo já não estava longe, passáramos São Torpes e agora era seguir sempre em frente, fora as curvas, claro, até à vila.

- Que lindo este mar! Abre um bocadinho a janela, para cheirar o mar.

O Poeta respirou profundamente e disse, entusiasmado:
- Cheira a maresia! Ah! Há mar e mar... e eu cá gosto muito deste!

O Ouricinho repetiu:

- Mar e mar...Que mar maravilhoso! O Manuel não vê?, perguntou-me baixinho. Nunca olha e vai tão calado...
- Vai a guiar! Era o Poeta que explicava. Não se pode contemplar a paisagem, quando se vai a guiar...




- Gostam?, perguntei. É a charneca junto ao mar...

- Mar e campo, campo e mar... Lindo!

Era o Poeta. Mas o Ouricinho não lhe ficou atrás, e repetiu...
- Sim, é a charneca!
- Seja o que for, nunca tinha visto e gosto!



Entrámos na vila branca, com as suas fitas azuis pintadas sobre a cal branca, a bordejar as esquinas, as janelas, as portas.




Chegámos a o hotel e as exclamações do Ouricinho não paravam.

- Oh! Que giro é isto aqui! Que giro mesmo!

O Ouricinho apreciava  tudo...

- E tens uma mini-cozinha! É uma casinha em ponto pequeno...Que giro! E as janelas com ripas de madeira!




O Ratinho olhava o mar ao fundo, pensativo.


- Impressiona, sabes? As casinhas brancas tão perto, os campos, as árvores, as trepadeiras... E, ali, o mar!


O Ouricinho já andava pendurado de uma coisa que me parecia a tira de puxar os cortinados.

- Um baloiço! É atletismo. Vem, ó Poeta!


O Ratinho quis experimentar, mas percebi que não se sentia à vontade naquelas alturas. O amigo, pelo contrário, era um autêntico malabarista!



- Bem, disse eu. Agora vamos descansar um bocadinho!
- E não vamos à praia?, perguntou o Ouricinho. Aposto que o Manuel já para lá anda...

- Agora, é o momento do descanso. E à tardinha vamos até à praia, combinado?


Já estavam os dois em cima da cama, a dormir...

sábado, 22 de junho de 2013

Stendhal, Leonardo da Vinci e o quadro "Sant'Anna" que está no Louvre


Sant' Anna, con la Vergine e il bambino /pormenor


Apenas uma curiosidade, que encontrei no livro, de Dominique Fernandez:“Dictionnaire amoureux  de Stendhal”.

“Em Leonardo”, escreve Fernandez (pg.363), “Stendhal é sensível apenas à “magia dos longes”. 


Por exemplo sobre a "Sant' Ana", que está no Louvre, Stendhal  acha que “a parte da pintura que atrai as imaginações ternas" é a causa prinvipal da sua superioridade sobre o resto. É por aí, explica Stendhal, que “ela se aproxima da música e leva a nossa imaginação a acabar os seus quadros”.

Mais do que as figuras de primeiro plano, são os objectos longínquos, meio escondidos que exercem o seu encanto sobre nós.” E arrancam do nosso pensamento uma cor azul celeste.”

"Sainte Anne", pormenor

Deixo-vos o quadro, para poderem pensar sobre o que diz Fernadez... E um link de um blog "Siedel.Ltd" que fala da última exposição, dedicada,  em 2012, a esta maravilha de Mestre Leonardo, no Museu do Louvre! A sua (última) obra-prima...


"Saint-Anne", com a Virgem, esboço (National Gallery, Londres)

capa do catálogo da Exposição sobre Saint Anne




sexta-feira, 21 de junho de 2013

E, já agora, vejam este filme para dis-tressar: "Burn After Reading" dos irmãos Coen ...


"Burn after reading" ("Queimar, depois de ler")  foi realizado em 2008, por Joel  e Etan Coen, os dois irmãos Coen que realizaram uma série de bons filmes, entre o humor negro, a tragédia, a ironia e o sarcasmo - sobre a sociedade em que vivemos...

Foi com este filme que abriu o 65º Festival de Cinema de Veneza. 


Mas é no Festival de Cinema de Toronto que o filme será premiado. 
Em Toronto 2008




A interpretação dos actores é fantástica: John Malkovich, Brad Pitt ou Frances MacDormond e George Clooney não falham! 



Uns anos antes, tinham apresentado "Este país não é para velhos" e, muito antes, "The Big Lebovsky". 


"Fargo" é outro terrível filme, extraordinariamente bem interpretado por Frances MacDormond, mulher de Joel e actriz de 6 dos filmes assinados por eles...


Etan e Joel Coen



Está dobrado em italiano....

Mais cenas, na língua original:





Para saber mais sobre os realizadores...