sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

"Moon river": Falando de Audrey Hepburn e de "Breakfast at Tiffany's"







Audrey Kathleen Ruson ( Audrey Hepburn),nasceu em Ixelles, na Bélgica, em 4 de Maio 29, e morreu na Suíça, em Tochenaz, com um cancro no dia 20 de Janeiro de1993 com um cancro de estômago. Era filha de mãe holandesa, baronesa, com origens nobres, e pai britânico-irlandês. Actriz de grande nível e classe, era uma trabalhadora infatigágel quando filmava, e uma companhia que todos apreciavam, porque criava um bom ambiente em seu redor...







Breakfast at Tiffany’s é uma história escrita por Truman Capote, incluída numa colectânea de contos com esse nome (*). 

Truman Capote

Um escritor - do qual não sabemos o nome- vive em Nova Iorque num andar e noutro andar vive Holly Golightly, uma jovem à procura de muita coisa que ignora. E vê-a, segue-a de longe, da janela.


Sem rumo, frágil insegura, confusa, anda de festa em festa, de encontro em encontro e vai gastando os seus dias. Em busca de uma companhia especial? Do amor? Do absoluto? Para já, interessam-lhe as festas e ter uma boa companhia. 
E o escritor segue-a da janela. Ouve-a cantar a bela canção "Moon River" (**), criada para Audrey cantar no filme e que ela própria escolhe. 


O que é para Holly a felicidade? Bem, para ela deve ser um estado parecido com a sensação que ela tem ao ver todas as manhãs as vitrinas da Tiffany e Cª, e as suas jóias.


O filme foi realizado em 1961 pelo inesquecível Blake Edwards (o da Pantera cor de rosa e  do fantástico, mil vezes visto e revisto, "Hollywood Party").


(*)O livro de Truman Capote “Breakfast at Tiffany’s” (Boneca de Luxo, em PortugalBonequinha de Luxo, no Brasil) contava mais 3 histórias além desta que é de 1958. Uma casa de Flores (1951), Um violino de Diamantes (1950) e Memória de Natal (1956).~

(**) A canção que Audrey canta foi composta por Henri Mancini, com letra de Johnny Mercer, em 1961. Ganhou o Oscar desse ano da melhor banda sonora de filmes.


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Na morte de Paco de Lucía...

1972

Paco  de Lucía (Francisco Sánchez Gomes, depois Paco de Lucía que era o nome da mãe) nasceu em 21 de Dezembro de 1947, em Algeciras de Cádiz, e morreu hoje. 
No dia da sua morte,  associemos a "sua" Guitarra, os versos de Lorca e as pinturas de Picasso. Homenagem a grandes artistas de Espanha.

Guitarrista espanhol de flamenco, compositor e produtor, Paco de Luc]ia era uma glória  da música espanhola. 

Foi um dos que criaram o chamado estilo  New Flamenco. Com a sua técnica e génio, ajudou a legitimizar-se em Espanha o flamenco. Depois, continuou por outros géneros como o Jazz e a música clássica (quem não conhece a execução maravilhosa d' O Concerto de Aranjuez, de Joaquin Rodriguez? 

Entre 68-77 toca com outro grande músico: o cantor Camaròn de la Isla. Gravam alguns álbuns.



http://youtu.be/VKtAhJPZS6o



1972, saída do álbum "El duende"

Junta-se, mais tarde, com dois outros magníficos guitarristas, o inglês John McLaughlin e o americano de New Jersey,  Al de Meola e formam o Trio de Guitarristas mais famoso.

McLaughlin

Al de Meola

Em 1982, toca – e grava- com Chic Corea.

Chic Corea


No campo do Jazz, outros testemunhos surgem a seu favor: Eric Clapton e Richard Chapman, que são os autores do livro Guitar: Music, History, Players, descrevem o guitarrista como “figura titânica no mundo da guitarra flamenco”.

Em 2004, ganha o Prémio Príncipe das Asturias para a Música. 
É sem dúvida uma grande perda para a música. Para os amadores de guitarra...
fotografia na 1ª página de El Pais...

Era ainda jovem, tinha feito 66 anos há pouco... E tocava como um Bruxo, diziam... Ou um Mago!


Ouçam...
http://youtu.be/16i4OXJTPW8




A força de Jacques Brel - Dans le port d'Amsterdam!


Jacques Brel, no Olympia de Paris, 1965, despedida...

A calma do mar em certos fins de tarde, foto de Gui Poppe





domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dias de chuva... O Ratinho está ofendido comigo?



Todas as manhãs, o Ratinho parece olhar-me um pouco de lado, quando vou dar os bons dias aos três amigos. Encostado à madeira da escrevaninha, parece mergulhado em pensamentos profundos. É sempre o primeiro a acordar, mas fica na cama a pensar.


O Ouricinho diz “bom dia, bom dia!” e  salta logo da caminha –uma espécie de saco-cama que lhes arranjei para o Inverno, numa bolsinha dos meus bâtons- e vai espreitar à janela para ver se chove ou se está sol.

- Chove outra vez, Ratinho! Que maçada...
O Ratinho Poeta não responde. Olha para mim com uma expressão triste, diria mesmo, ofendida.

- Bom dia...

E volta aos seus pensamentos. A gatinha japonesa é sempre ela-própria e gentil, com chuva ou com sol. Pega na malinha de mão, alisa o kimono cor de rosa e azul e cumprimenta-me sempre com delicadeza e uma ligeira vénia.
- Bom dia, minha amiga...


Sorrio. Figurinha etérea e sorridente, guardando lá no fundo de si a dor ou as ofensas da vida, parece-me saída de um romance do Kawabata ou do livro -que agora estou a ler- de Lafcadio Hearn, "O Japão".



Katsushika Hocusai


- Bom dia, Shôshô San, respondo, a pensar na Madame Butterfly do Puccini. Ou na suavidade do quadro de Sinshui Itô...

Sinshui Itô, Noite de neve

E lá vai ela para junto do Ouricinho, aos saltinhos, e põem-se logo a  conversar.
Entendem-se melhor estes dois, talvez porque ainda são crianças. E o Ratinho? Bem, para eles o Ratinho é o Mestre e ela tem um grande respeito pelo Poeta. Chama-lhe sempre “Ratinho San”.

Yosa Buson, Haiku

Por que estará zangado o Ratinho? Pelo menos, está triste... Será culpa minha? O que teria eu feito?

É verdade que os dias cinzentos nos enervam e isso não ajuda às relações humanas. 


"Mas se fosse só no tempo do Inverno..."
 Ele é um sensitivo, um susceptível, um mimoso e presumo que acha que não lhe estou a dar a atenção devida.


"Sim, o Ratinho é um egocêntrico. Não admira, ele é um Poeta, um Artista!", penso para mim.

Uma coisa engraçada é ver que, apesar de egocêntrico, não é narcisista – sentimentos que, por vezes, coincidem na mesma pessoa. Não, o narcisista cá da casa é o Ouricinho!

O que ele adora perguntar-me:
- Estou bonito hoje?
Põe um lacinho ao pescoço ou nem isso, penteia-se com a patinha ao espelho e fica à espera.

Eu respondo-lhe :
- Estás lindo, meu amor!

Ele chega-se para mim e pergunta:
- Cheiro bem? Cheira aqui no pescoço...
- Umm, que bem que cheiras!
E não minto, ele cheira sempre bem!

O Ratinho é diferente, claro. Dá uma certa importância à sua aparência, talvez seja um pouco convencido de si, mas não tem a mania das toilettes, é simples. 

"E é sempre tão generoso! Por que  estará ofendido?"

 Não me  sai da cabeça a pergunta, apesar de saber que sei a resposta demasiado bem: é a sua susceptibilidade (se estivesse em Itália, diria dele: “è permaloso!”, mas como traduzir?). A  exigência de ser o preferido, o medo que se esqueçam dele, menino abandonado que foi.

Ouço-o dizer, baixinho:
- Agora não me falas, pela manhã?
- Eu?


Espanto-me. Mas com um certo sentimento de culpa porque o tenho deixado mais sozinho. Há sempre preocupações que nos distraem a atenção que deveríamos aos  amigos, e isso é no fim e ao cabo, indesculpável. 




O Ratinho “fareja” tudo com aquele narizinho que ele tem sempre no ar, a ver o que se passa!
Ele é muito meu amigo, tem uma dedicação por mim desde que o trouxe para casa um dia. Sei que pressente que ando preocupada.

- Andas bem? O que disse o médico da última vez?
-Oh, Ratinho, estou bem!
- Andas longe, distraída. Não me falas da mesma maneira. Não me dás atenção...

O desabafo saiu-lhe de repente, e eu nem esperava nada do género: ele costuma ser mais reservado nas suas emoções.

- Ó, Ratinho! Não é verdade! Faço o que posso. Vês-me sempre a andar daqui para ali...
-Não paras, é verdade. É disso que eu não gosto! Tens de estar sossegada!

E, logo, ansioso:

- É por causa da crise? Têm problemas?
- Por quê, Ratinho?
- Ah, tu bem sabes. Dizem que a crise está a dar cabo das pessoas, das vidas de toda a gente.
- Ai dizem? Onde ouviste?

Como teria ele ouvido estas coisas todas? Claro que do Ratinho eu espero tudo! Com o seu modo silencioso, de nariz no ar, anda sempre a bisbilhotar tudo. 

Espreita a televisão, lê os meus livros, vai à internet. É um perigo! Queria sossegá-lo mas não sabia como.



- A crise? Sim, a crise preocupa-me...
- Há gente com fome. Tens cá comida que chegue para todos? E queijo?...
- Tenho...

Ele acenou com a cabeça várias vezes, enquanto dizia:
- Sim, preocupo-me muito! E quando não me falas, é pior! Ele...

E apontava para o Ouricinho que continuava à janela e agora dava cambalhotas, a rir-se.


- Ó Shôshô, viste aquele com o guarda-chuva virado ao contrário? Hihihi! E a mulher que anda ali às voltas.


- É o vento...
E riam os dois às gargalhadinhas.

O Ratinho continuou:

- Ele... sim, ele é uma criança! Tudo o faz rir e só quer brincar, na vida. Não se interessa pelos problemas sérios. Não vês as brincadeiras que ele tem? Tudo lhe serve para brincar!




- Deixa-o ser assim... 

Sabia bem o que o Ouricinho adorava divertir-se. E fazia ele muito bem!


- Tu também és jovem, Poeta! Não te deixes levar pelas coisas sérias da vida! O que te faz falta? Não és feliz aqui em casa?

Agitou-se todo, cheio de uma indignação sincera.
- A vossa casa é a minha felicidade absoluta!


Pus-lhe a mão no ombro, com ternura. Fiz-lhe festinhas na cabeça, comovida.

- Esta é a tua casa, Ratinho! E terás sempre aqui o teu lugar!

Vi uma lágrima no olhinho dele. Deu um suspiro de alívio, daqueles grandes que ele gosta  de dar.


-Bem, então posso ficar descansado? A crise ainda não chegou cá? Obrigada pela nossa conversa. Estava muito angustiado, sabes? Eu gosto muito de vocês...


- Eu sei, Ratinho, eu sei. Não deves agradecer nada. Foi muito bom para mim falar contigo.

- Anda cá, está a vir o sol!
Era o Ouricinho, sentinela do tempo.


- Chamas a isto sol?, perguntou o Ratinho, que foi logo ter com eles, a protestar. Julgas que estás na praia?






- É sol! Eu sei que vem aí o sol!

- Isto não é nada..., contrariou o Ratinho. Não vês como está o nosso jardim com tudo queimado pela geada. Tudo caído!  As roseiras não têm flores, nem folhas! Qual sol!


Ia começar uma discussão... Decidi ir para a sala e deixá-los!




- Não me interessa, é sol! É sol!, teimava o Ouricinho, de mão dada com a gatinha.

E eu ia pensando que o Ouricinho é que fazia bem em viver o instante insubstituível, o momento, o átimo, o respiro de cada dia...


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Diana Krall e a canção "Why Should I Care?"

Gosto da voz desta mulher! Até lhe deixo umas flores do Chagall! É alegre, tem fôlego para gritar quando é preciso! Why should I care?, pergunta ela.Tem razão, de facto para quê ralar-me? Pois... mas estou sempre a "care" com tudo....




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Ler e para quê? Para que sim!


Frank Weston, Lady reading



Cá venho com mais uma leitura.... Um artigo de John Sutherland no Suplemento literário do Financial Times (3 de janeiro 2014), intitulado: How to win, lose and use Money in a novel way(Como vencer, perder e usar o dinheiro de uma "nova" maneira (jogo de palavras novel (nova)/novel (novela).


 “O dinheiro – e a injustiça da sua distribuição- estão muito no nosso pensamento de hoje em dia. Ferve, sobretudo, nas cabeças dos jovens políticos idiotas da geração que tem à volta de vinte e tal, 30 anos: a “pinched generation.” 

"Pinched generation", como ele lhe chama. Geração “beliscada”? Atingida? Magoada?

Não é com certeza o que eles vão procurar mas bem podiam ir ler os escritores do século XIX. Lá encontrariam uma “entendimento” útil sobre os factores desta injustiça."


E, com humor, fala de Balzac, cheio de dívidas e a escrever e a queixar-se : “por detrás de uma grande fortuna está sempre um crime”
Balzac, escultura de Rodin

Ou das dúvidas/dívidas de Fiodor Dostoievsky no "Jogador" e na vida - que se poderiam resumir na frase: “Se Deus te ama, far-te-à rico. E assim, fim dos problemas", ficava tudo resolvido!

Dostoievsky retratado por Perov

E Charles Dickens que fala constantemente de dinheiro nos seus romances e, mais do que outra coisa:  de “não ter dinheiro”! Da pobreza autêntica, dura e crua...


E J. Sutherland lembra a “golden generation”, dos inesquecíveis Dickens, ou George Eliot, ou Jane Austen e das suas personagens: jovens em cujas dificuldades monetárias talvez os jovens de hoje pudessem encontrar algum consolo.


Sofriam dos mesmos problemas económicos. Raramente podiam casar antes do 40 e nem lhes passaria nunca pela cabeça comprar uma casa! O dinheiro? Ah, sim, esse estava sempre na mão dos outros. As donzelas que amavam, sabendo-os “mostly skint” (sem um tostão) casavam com os velhos com dinheiro."

Porque, em oposição a essa geração de jovens “pelintras”, havia a “wallet generation- power”, os “instalados na vida”, mais velhos e com a carteira bem recheada, os quais, na maior parte dos casos, lhes roubavam as bem-amadas.


Charles Dickens por volta de 1850


Num conto terrível (Dombey and Son) de Dickens, um menino que está doente e vai morrer, pergunta ao pai: 
Pai, mas para que serve o dinheiro?”, coisa a que o pai não sabe responder. 

Anos mais tarde, destruido com a morte dese filho, arruinado, talvez descubra  que, no fim e ao cabo, o dinheiro só serviu para não ter vivido nada como devia ter sido. Nada prestou na sua vida...


"David Copperfield", romance maravilhoso, reeditado pela Relógio d´Água

E o que foram as vidas do pequeno David, ou das personagens de "Tempos difíceis" ou "Oliver Twist"? Uma luta constante contra a miséria...

Imagem do filme "Oliver Twist", do romance homónimo de Dickens

E George Eliot? Esta grande escritora era uma “self made rich woman” que, segundo Sutherland, sabia bem o valor do dinheiro, porque ganhou cada “penny” da sua fortuna, sozinha! 


Lembra o romance “Silas Marner” (The Weaver of Raveloe), e a personagem do tecelão que lhe deu o nome. O trabalhador infatigável, o lutador que ganhou, apenas com o seu esforço. 


imagem da série da BBC, com Ben Kingsley

Os heróis e as heroínas de Eliot podem herdar fortunas mas esse dinheiro nunca é uma coisa central na sua ficção. 

Dorothea Brooke, a heroína de “Middlemarch”  dizia: “Quando temos mais dinheiro do que necessitamos, então devemo-lo usar para fazer um mundo melhor!”

Coerente, foi o que fez: ajudar os outros, criar possibilidades de tornar menos dura a vida dos que nada têm.

um selo que comemora a saída de Pride and Prejudice

“Jane Austen, pelo contrário,  nunca falava de “trade” (comércio, negócios) ou “work”... Foi um erro homenagear a escritora pondo a sua efígie nas notas de 10 libras. Admiro Jane Austen, diz Sutherland, pelo seu trabalho literário. Mas o seu lugar mais adequado não é as notas de 10 esterlinas...”

a nota de 10 libras, saída em Outubro de 2013

E continua:

"Se há alguém que nunca pensou no dinheiro do que ela. Nunca se fala de dinheiro nos seus romances: ou há...ou não há. Em princípio, há..."

Desenho da irmã Cassandra e imagem da nota, que deu que falar...

Para terminar, que mensagem fica para os jovens de hoje, cheios de dificuldades e mais  pinched do que nunca...?

Pensem que foi sempre assim, e que nunca foi fácil. Contentem-se porque estão vivos e tal como diz George Eliot têm 35 anos à vossa frente...e não atrás.

Certo. Mas se fosse assim tão simples como isso animá-los. Pobre “pinched generation”!

Deixo uma canção dos Pink Floyd... "Money", of course, diria John Sutherland!