quinta-feira, 8 de maio de 2014

O escritor-viajante Bruce Chatwin e as suas viagens maravilhosas ...

Charles Bruce Chatwin foi um romancista  inglês, viajante e escritor de viagens. 
Chatwin, com as botas às costas

"O que faço eu aqui?",de Bruce Chatwin


Ou, antes, um viajante inglês que escreveu sobre tudo o que viu e observou na vida? A importância e a "qualidade" de empatia do olhar são essenciais...

o olhar de Claude Monet: nenúfares e nuvens 

Quem me falou dele foi uma grande amiga que já morreu, Luciana Stegagno-Picchio. Aconselhava-me que não deixasse de escrever as minhas histórias de viagens – tal como Chatwin fizera com a sua ida à Patagónia!



Sem pensar em comparações, é evidente, a verdade é que escrevi essas recordações das minhas viagens. Guardadas na gaveta, é óbvio, quem as publicaria? Uma ou outra dessas histórias, vou pondo no meu blog e dá-me um grande prazer escrevê-las.

Decidi saber mais sobre Chatwin e encomendei o livro “Na Patagónia” (editado pela Quetzal) à minha amiga Cláudia, da Livraria Lumière

É um livro cheio de vida, de observação, de imagens e de gestos que fixou muito bem. Gente estranha, diferente, com outros hábitos, outro modo de encarar a vida e os problemas.

Nasceu em Sheffield, em 13 de Maio de 1940. Mas a verdade é que a sua primeira casa foi a dos avós, em Dronfied, uma vez que a mãe se mudou para lá quando o pai, Charles Chatwin, se alistou na Royal Naval Reserve. A Royal Naval Reserve (RNR) era a força de reserva voluntária da Royal Navy, no Reino Unido.




Sheffield era um local privilegiado para crescer, junto da confluência de 5 rios, nas colinas. Particularidade muito especial: está "rodeada" de milhões de árvores!
Sheffield


Mais tarde, ainda criança,  foi viver com os pais para West Heath, perto de Birmingham, e, depois ainda, em Warwickshire. Estudou arquitectura em Wiltshire, e, em 1958, foi para Londres.



Começou a trabalhar na Sotheby, no departamento “Works of Art Department”. Torna-se especialista do Impressionismo, graças à sua grande acuidade visual. 

A verdade é que, mais tarde, vem a sofrer de  problemas com a vista, causados pelo trabalho que fazia, aquela  minúcia de fixar, do “especialista”. 


Em 1964, o diagnóstico é estrabismo latente: tem de descansar os olhos e de se afastar do trabalho. Decide ir viajar e, em 1965, decide parte para o Sudão.

Quando regressa, em 1966, despede-se da Galeria  Southeby e matricula-se, na Universidade de Edimburgo, em Arqueologia. 



É-lhe atribuído o prémio Wardrop pelo melhor trabalho de final do 1º ano do curso mas a Bruce Chatwin não agrada o rigor da arqueologia académica e sai sem terminar o curso.

Em 1972, o Sunday Times Magazine contrata-o como conselheiro arqueológico e começa a sua vida de viajante pelo mundo. Escreve sobre o que vai fazendo, a realidade que vai vendo, entrevista personalidades de nome, como André Malraux, em Paris por exemplo.


Ou a escritora russa, Nadeshda Mandelstram (viúva do poeta Osip Mandelstram), na Rússia soviética.



Viaja pela China, pela Argélia, continua a viajar e a escrever sobre os o que o impressiona: os trabalhadores migrantes, por exemplo. 



Durante esse mesmo ano, conhece a designer irlandesa Eileen Gray (1878-1976) -nessa altura com 93 anos- que entrevista, na casa dela, Rue de Lota, em Paris. 


apartamento, na rue de Lota, decorado por Eillen Gray




Eillen Gray é a grande arquitecta e designer do Movimento de Arquitectura Moderna. Vem para Paris em 1910, para a Exposition Universelle.

É nesse apartamento que Bruce vê, pela primeira vez, uma imagem do que vai ser a sua obsessão: um mapa pintado por Eileen que representa a Patagónia.


Eileen Gray


Era o seu sonho. Confessa: “Sempre sonhei lá ir.” Eileen Gray responde: “Eu também. E já não posso irVá lá por mim!”


De facto, havia um motivo para esse interesse: muitos anos antes, fora enviado à sua avó, uma oferta por um primo marinheiro que nunca mais voltara à Inglaterra. Era um pedaço de pele (pelo) de um animal desconhecido, o “mylodon”, provavelmente como o que se encontra no Museu de Berlim. Estranho animal pré-histórico, espécie de preguiça gigante, o milodonte.


pelo de "mylodon", Museu de Berlim


Então, seguindo o conselho dela,  decide ir. Organiza a viagem, cuidadosamente, e, em 1974, voa para Lima. 



Um mês mais tarde, está na Patagónia, onde vai viver durante seis meses, percorrendo com os meios mais simples, de boleia ou a cavalo, pernoitando nos sítios mais isolados, com as pessoas mais estranhas que vivem isoladas naquelas paragens. 



Dessa experiência, dessa observação atenta e vivida, escreve o livro “In Patagonia” (1977). E a sua reputação de “escritor de viagens” e de aventuras cria-se.
Na Patagonia, edição no Brasil

Diz o New York Times que o seu livro é “uma pequena obra-prima da literatura de viagens, história e aventuras”.

"O Vice-rei de Ouidah" (19807


adaptação de Herzog (1987)

Escreveu muitas outras histórias das suas viagens, como Songlines (1986), sobre a cultura aborígena.


Arte aborígena, no paleolítico

Songlines 

A partir de uma sua viagem à Austrália, à procura da Canção do Aborígena. Para conhecer de perto a "arte" e a cultura dos povos aborígenas. E poder falar dela.


músico aborígena, 1981

Em 1982 ganhou um prémio importante – o James Tait Black Memorial Prize, com um romance “On the Black Hill”, a história de dois gémeos, no País de Gales. 



Bruce Chatwin conta das suas errâncias pelo mundo (um dos seus livros chama-se "Anatomia da Errância"), conta da sua experiência, de tudo que aprendeu e quis aprender. Até morrer...



Morreu, em 18 de Janeiro de 1989, em Nice.  Contaminado pelo Sida. Nunca quis falar da doença, nem de como a contraíra, ou das suas causas - o que era um seu direito: era a sua vida e a sua morte. 

Depois da morte, a mulher e um amigo publicaram “Debaixo do Sol”, uma recolha de cartas e postais enviados por Bruce à família ou aos amigos. Foi uma vida curta. Intensa, no entanto. Com certeza viveu mais nos seus 48 anos do que milhões de gentes em toda a vida! A intensidade... 
Um mês antes de morrer, dizia: “Ainda tenho tantas coisas para fazer…”


Nota: "o milodonte pertence a um género extinto da preguiça gigante que viveu na América do Sul há cerca de 10.000 anos."

7 comentários:

  1. Muito interessante!
    Já tinha ouvido falar deste livro.
    Uma vida de aventuras. Há pessoas que nascem para isso: vidas de completa aventura!

    As histórias da Maria João são diferentes, mas são muito muito boas e tenho a certeza que se fossem publicadas agradariam muito e teriam sucesso. Infelizmente as editoras procuram o lucro fácil, com livros descartáveis.
    Não deixe de escrever! Eu vou ser sempre uma fã da sua escrita e das suas histórias!

    Um beijinho grande e bom fim-de-semana!

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    1. Obrigada querida Isabel! és tu que me dás ânimo... Vou continuar! tenho tantas coisas para contar ainda... beijinhos

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  2. Tão interessante. Fiquei com vontade de ler. Nunca li nada dele.
    Beijinho. :))

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    1. Este é muito interessante! Verdadeiro e com histórias de gentes de que não conhecemos nada... Beijo

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  3. Também nunca li nada do autor e, ninguém como a Maria João para nos
    "abrir o apetite"...

    Um beijinho.:))

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  4. Gostei muito de ler este post, de boa manhã, fez-me bem à alma. "Ainda tenho tantas coisas para fazer!", esse é o espírito, até ao fim, com 40 anos ou com 80. É bom pensar assim. Sempre.
    Um beijo

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    1. Se não fosse isso, essa vontade de continuar com coisas para fazer, de que servia a nossa vida? Era um vazio... Um beijo grande

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