domingo, 21 de janeiro de 2018

O Outono, melancólico Outono..


o Anjo do Natal

"O Outono está por toda a parte. Sempre. Na tristeza súbita que nos invade sem razão aparente. Na melancolia a olhar pela janela. Nas recordações que jorram do coração e nos fazem suspirar sem querer.
Munch, Quarto e morte

Tem morrido gente. Morre sempre gente no Outono. Gente jovem, gente velha. Gente que não resiste ao peso da vida, que já não espera. Que se cansou de viver. Ou gente que não tem saúde mas gostaria tanto de viver. 
A Corredoura no Outono, Miguel Barrias

A vida é injusta e cruel e não é só Deus a decidir dessa injustiça.  É tanta coisa! A esperança e a desesperança, o encontro e o desencontro. A ambição do absoluto, um absoluto que talvez não exista. A impaciência, a pressa, a desconfiança. O amor e o desamor.
Culpa de Deus? Não, até porque Deus até talvez não exista. Mas querer ter um deus evita-nos os medos de que ele talvez não exista.  E se ele não existir, então? Quantas vezes choramos a pedir-lhe coisas, a pedirmos que não aconteçam coisas. E Deus ouvia? Deus ouve? 

Régio fala das "Encruzilhadas de Deus"...

Desencontros, sofrimentos, medo, desejo de ser amado, medo de não saber amar. Querer o infinito. Sempre. 
O desencontro com a minha mãe que tanto amei. Será que ela o soube? Dele falo na minha história “Noite na Serra”. Só nós duas sabíamos dessa 'falta' e do medo que talvez tivéssemos de que não gostássemos uma da outra - como teríamos querido que fosse sempre. E o medo de não nos amarmos, afinal, como nos tempos em que nos tínhamos amado.

Dizia o meu amigo Agostinho Castro -  um Poeta que morreu sem nunca saber como foi - que era a história mais terrível das que lhe mostrei. 
Marc Chagall, O Poeta e os pássaros
Falava da solidão e da coragem da minha mãe nos últimos anos. Como se sentia perdida nas noites de Inverno. Teria vontade de partir depressa? 
Rembrandt e o Anjo 
Nesse conto falava da minha vontade de lhe dizer o que nunca lhe disse. Do grito que não me saía dos lábios:"estou aqui!"

Para que servia a minha pena?  De uma pessoa perdida no meio da serra e da solidão? 
E o que fiz eu? Nada, creio. Não havia nada a fazer, e desculpei-me por estar longe, muito longe...
Um dia, pouco antes de morrer, disse-me: "Vem ver. Tão bonitas as árvores..."
Encostei-me ligeiramente ao ombro da minha mãe e não disse nada.

Quando chega o Outono tenho vontade de chorar..."

(Outono 2017)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Primo Levi: 70 anos depois da publicação de "Se questo è un uomo"...

Li, no jornal italiano La Repubblica, em Novembro do ano passado, um artigo em que se falava do escritor  Primo Levi e de David Grossman, ensaísta e romancista israelita. Intitulava-se "Ler Primo Levi". De facto, a temática do escritor é, infelizmente, verdadeira e actualíssima! O homem continua a perseguir o homem. O homem continua a infernizar a vida do homem.
O jornal referia-se à cerimónia de entrega, em Génova, do ‘Prémio Internacional Primo Levi’, a David Grossman.(1)

Diz o articulista: "Grossman confessa que  aprecia Levi desde a leitura de 'Sistema periódico' . Considera que o livro 'Se questo è un uomo' é especial, com uma lição muito importante a tirar."

entrega do Prémio Primo Levi

Grossman que aprecia Levi desde a leitura de “Sistema periódico”, acha que Se questo è un uomo é um livro muito especial: “Enquanto o lia, página atrás de página, sentia que o livro deste autor, deste homem –como me aconteceu com mais três ou quatro- me indicava um modo único e particular não só de observar a vida mas também de a viver!

David Grossman, 1954

Em vez de falar do livro preferiu falar da relação de Levi com um homem chamado Lorenzo que lhe salvou a vida, no campo de Auschwitz. Lorenzo, o homem “que recusou ignorar a sua humanidade.”
E refere isto como coisa de grande actualidade,  num momento em que o problema dos migrantes continua a acender-se sobretudo na óptica do acolhimento destes refugiados do mundo. 


No discurso de agradecimento, diz : 
Se questo è un uomo’ é o livro em que pela primeira vez Levi fala dos quase doze meses no campo de extermínio de Auschwitz. Poderíamos falar horas e dias desta obra, da desorientação que causa no leitor o estilo sóbrio e límpido do escritor mesmo quando descreve os horrores mais terríveis, nunca antes sofridos por seres humanos, o processo de destruição e da perda de qualquer semelhança humana não apenas por parte dos nazis e dos seus auxiliares, como também das próprias vítimas.”

No livro "Il sistema periodico", Primo Levi referira já a passagem por  Auschwitz. Esta sua autobiografia é considerada uma das mais belas e originais. 
A particularidade é que cada capítulo do livro corresponde a um elemento químico da tabela periódica de Mendeliev que, confesso, não conheço.
Mendeliev  e a tabela periódica


na Universidade de Turim, que tem de abandonar pelas "leis rácicas" 


Leio na internet que "no capítulo dedicado ao Ouro, entramos  com Primo Levi no Campo de Aushwitz". 
Na minha cela também havia um rato. Fazia-me companhia mas, de noite, mordiscava-me o pão. (…) Sentia-me mais rato do que ele: pensava nos caminhos nos bosques, nas neves lá de fora, nas montanhas indiferentes, nas centenas de coisas maravilhosas que, se voltasse a ser livre, poderia fazer, e a garganta fechava-se como um nó.’

Sabendo que não haveria tempo para relembrar tudo isto, Grossman escolhe "falar do único, crucial, contacto humano que Levi teve em Auschwitz, com um homem que se chamava Lorenzo.”
E acrescenta:
Primo Levi escreve: “a história da minha relação com Lorenzo é ao mesmo tempo longa e breve, simples e enigmática: é a história de um tempo e de uma situação hoje apagados por qualquer realidade presente.
(...)
Reduz-se a pouca coisa: um operário civil italiano trouxe-me um bocado de pão e os restos da sua comida todos os dias durante seis meses; deu-me uma camisola remendada, escreveu – a meu pedido - um postal para Itália e, depois, a minha resposta a esse postal. Não pediu nada por tudo isto nem aceitou qualquer recompensa, porque era um homem bom e simples e não pensava que o bem se praticava para ter alguma paga.”

Tantas coisas pequenas, quase insignificantes, mas que se revelam essenciais para um ser humano que não esteja dolorosamente ferido e cheio de medo, ao ponto de viver mecanicamente, apenas para sobreviver de qualquer maneira.
"Num lugar onde os civis nos olhavam com todos os matizes que estão entre o desprezo e a comiseração. Éramos como “intocáveis”, marcados talvez por uma culpa gravíssima para termos sido condenados a tal vida, reduzidos àquela condição, quase como animais, batidos todos os dias, cada dia mais abjectos aceitando sem nos rebelarmos, sem um olhar de esperança, de paz, ou de rebelião.”

Lorenzo Perrone 

No livro, Primo Levi refere Lorenzo Perrone (3), o pedreiro piemontês, que trabalhou na expansão do campo de Auschwitz, em 1944, e que o ajudou a querer viver.
Primo Levi
“Lorenzo era um homem; a sua humanidade era pura e incontaminada, ele estava fora do mundo de negação em que vivia. Graças a Lorenzo consegui nunca esquecer que eu próprio era humano também.”
Castelo de Fossano

Lorenzo Perrone nasceu em Fossano, em 1904, e ali morre em 1952, alcoolizado, incapaz de "lidar" com o traumatismo do que viu em Auschwitz.
Primo Levi com amigos, antes

Diz Grossman: "um simples operário italiano olhou para ele como se olha para um homem. Recusou-se a ignorar a sua humanidade,   a colaborar com aqueles que queriam apagá-la e, fazendo-o, salvou-lhe a vida. Quão simples e grandioso foi este seu comportamento. Penso na força de um olhar benévolo na vida de uma pessoa. Não só nas circunstâncias da loucura extrema de Auschwitz mas na vida normal de todos os dias.”
Um olhar, um sorriso acolhedor, podem salvar quem se encontra numa situação difícil ou, mesmo, desesperada. Lembra a situação trágica dos migrantes no mundo de hoje. “Este livro ensina-nos a maneira não só de observar a vida como a vivê-la.”

Grossman acaba quase por nos convidar a seguirmos o exemplo de Lorenzo quando olhamos as tragédias dos deserdados de hoje. Olhar bem nos olhos pelo menos um desses refugiados é quase uma obrigação nossa.


Nesta Europa que se fecha, que põe muros e redes de arame farpado ou não, ou que ignora, desvia o olhar, na indiferença mais completa, criticando-os, cinicamente.
“Que voltem para a terra deles, eu não tenho nada com isso!”

Todos somos humanos e temos que ver com o que é humano. “Nada do que é humano me é indiferente” - ou "alheio" - já o dizia Terêncio, que pensava na humanidade "humana".
Não esqueçam: basta um olhar. Um gesto. Pouca coisa, afinal…


***

   NOTAS: 
  PRIMO LEVI: Nascido em Turim em 31 de Julho de 1919,  morrre, suicida, em 11 de Abril de 1987.
  Licenciado em Química, participou na Resistência. Em 13 de Dezembro de 1943, é preso e mandado para o campo de Fossoli. Em 22 de Fevereiro de 1944, com mais 650 judeus, é internado em Auschwitz. 

(1)David Grossman, escritor israelita que ganhou no ano passado, em Génova, o Prémio Internacional de Literatura Primo Levi, artigo em La Repubblica de 6 de Novembro 2017. O seu último livro “A Horse walks into a Bar: a novel" saiu em 2017. Muitos livros escreveu. Ensaios. estudos políticos e sociais. 
    Gostei muito dos livros "The Zigzag kid" e "Procurar na letra amor"...

  (3) Lorenzo Perrone nasceu em Fossano, em 1904, e morreu alcoolizado porque nunca conseguiu ultrapassar o traumatismo que foi assistir à brutalidade de Auschwitz. Ali se encontrara em 1944 com Primo Levi.
  Primo Levi sobrevive ao campo de Auschwitz e, depois  da libertação do campo, vai procurar Lorenzo. Encontra-o. Contactam. Tenta ajudá-lo sem conseguir evitar a sua morte. Lorenzo morre em 1952.
Primo Levi, com Roth, em 1986, um ano antes do suicídio

  Mais tarde,em 1987, o "sobrevivente" Primo Levi, 'vítima retardada da detenção num campo de extermínio', suicida-se na casa de Turim, a cidade onde nascera em 1919.


***
    O LIVRO:
   Depois de recusado por várias casas editoras entre as quais a Einaudi, "Se questo è un uomo" é publicado pela pequena casa editora De Silva, em 1947. Tem pouco sucesso. Só muito mais tarde, nos anos cinquenta, é "descoberto"...

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Música! "My Blue Heaven" e Lena Horne


Recordar uma voz muito bonita!

“Nasce em Nova Iorque, a 30 de Junho de 1917 – morre em Nova Iorque, a 9 de Maio de 2010). Lena Horne foi uma famosa cantora e atriz  norte-americana.

Apesar de que já ter gravado e feito performances com vários músicos de jazz - notavelmente Artie Shaw, nome famoso do jazz e Teddy Wilson, um grannde pianista de jazz,  ela não era considerada uma cantora de jazz por muitos críticos musicais pelo fato de nunca fazer improvisações em seus shows.



Até seu falecimento, em 9 de Maio de 2010 viveu na cidade de Nova Iorque mas quase não fez aparições públicas.”
Mas tinha uma voz extraordinária e é um prazer ouvi-la sempre!

(wikipedia)

domingo, 7 de janeiro de 2018

Natal, viagens e regressos...

Voltei, por fim, das idas e vindas por aqui e por ali, Isabel. Os teus amigos agitaram-se, viajaram um pouco, adoraram, fizeram planos para mais outras mas …da última vez  deixei-os cá!
É simples, apesar de não ter desculpa à mesma. Na última viagem que foi até Guildford para passarmos o Natal o avião era cedíssimo. Ou não era assim tanto? Sei que alguém decidiu ir para o aeroporto de madrugada e, aí, o despertar foi às três da madrugada ou coisa no género.
Levantei-me estremunhada, e andei de olhos fechados quase, a acabar de fechar as malas, a prender os cadeados, a pôr umas fitinhas para reconhecer as malas. Tomei um café a correr e, toca!,  a chamar o táxi.

Confesso que chegámos lá quase três horas antes. O voo era, afinal, -só- às 7:20! Deixámos em casa várias coisas importantes (perguntem ao Manuel…) até o meu perfume preferido sem o qual não viajo e mais coisas preciosas, como são sempre aquelas de que nos esquecemos. 
Mas Guildford esperava-me e não me preocupei  porque ia para casa de alguém conhecido a quem não faltam ideias para resolver os problemas.
Foi já no avião mesmo que “ai de mim!” descobri que os amigos não tinham vindo connosco! Estavam a dormir e a dormir ficaram…
Como foi possível? Sono! O sono é a melhor vitamina para viver em paz e fazer as coisas como se deve. E imaginar coisas bonitas e positivas!
Não tenho desculpa, eu sei. Não espero que me compreendas, Isabel, mas correu assim desta vez.
Claro que já pedi desculpa aos amigos, já prometi e prometi.
- Como é que nos deixaste cá?, perguntou o Ratinho à chegada. E foi para o quarto, dignamente, sem me falar durante vários dias
- Como pudeste esquecer-te de nós?, foi a pergunta no olhar triste do Ouricinho.
E ainda:
- Era Natal! Levaste de viagem o anjinho que não tinha árvore de Natal e eu achei bem. Mas nós? Deixaste-nos sem árvore, sem presentes. Como esses meninos abandonados de quem estás sempre a falar.
- Andámos a inventar uma árvore de Natal para nós...
- Por favor, Ouricinho, desculpa-me.
- Eram todas feias... não tínhamos balões...
Abracei-o, mas para quê? Continuava de olhos tristes e chorosos.
E a Gatinha japonesa? Essa não disse nada. É uma menina especial que aceita que os outros possam ter destes esquecimentos imperdoáveis. 

A Gatinha encolheu os ombros e disse:
- Mas acabámos por ter um Natal bom. Com amigos... Quando queres, encontras sempre amigos.
Tinha muita razão! E todos me perdoaram no fim. Só eu é que não me perdoei. 
Agora, depois destes dias, já passou tudo. Já voltaram a vir cumprimentar-me de manhã...
Fiquei contente de ter deixado o anjinho sem árvore de Natal, na árvore de Guildford. Sei que vai ter boa companhia por lá.

Bom Ano Novo, amigos!

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

o Adeus a Aharon Appelfeld o homem que soube amar


Ainda Appelfeld? A mesma história dos judeus? Não. Para mim é a despedida de um amigo que conheci brevemente mas que senti como amigo. 
Conhecêmo-lo a primeira vez em Jerusalém, nos anos de Israel.
Mais tarde, voltámos a visitar o amigo, na Cafetaria Tmol Shilshom onde gostava de ir escrever todas as manhãs. 
Vivia em Mevasseret Zion, uma terrinha perto de Jersusalém.
Sim, escrevia todas as manhãs o seu livro -tantos livros sobre a dor e a incompreensão; o furor da Guerra e da Deportação, mas igualmente o "furor" de continuar a existir, a sobreviver amando.E recordando.

O mesmo livro? O seu livro era a vida. Cada livro, falando da mesma dor, da mesma “chaga do lado”, é sempre um modo diferente de procurar o sentido daquilo que não tem sentido.

Desta vez, é o silêncio. Num dos últimos livros, (E o furor ainda não se calou) Appelfeld volta a falar  desse eterno recomeçar, dessa reconstrução, dessa aquisição de uma língua nova para quebrar esse silêncio. De uma língua que soe como uma música. Uma música que é a história de uma vida...

O livro começa simplesmente, como todos os seus livros:
Chamo-me Bruno Brumhart. Todas as noites copiava um capítulo inteiro para que a minha mão se pudesse impregnar dessa língua e da sua música. “

A impossibilidade de compreender, de explicar leva, desta vez, as personagens ao silêncio: Bruno e os outros pouco falam, fecham-se na dor.

Aaron Appelfeld escolheu a "palavra" para se libertar da dor. Jovem sobrevivente dos campos, chega, deportado, deslocado uma vez mais, agora a Itália e, em 1946,  à Palestina, onde se lhe depara um país em construção do qual não entende a língua. Do qual não entende nada, ele judeu que vem da Roménia (ou Ucrânia? as duas...), de língua e cultura alemãs.
E, dolorido, isolado, volta a ir dentro da alma buscar novas forças: outro modo de viver, de se adaptar  à vida que continua sem ter sentido. Mas sem se fechar aos outros, porque o seu interesse no ser humano é insuperável.
Aaron Appelfeld com a Gui


Philip Roth disse dele: “Appelfeld, um escritor deslocado, (desenraizado?) de ficção deslocada que fez da deslocação e desorientação um tema sue, próprio.”
(Difícil traduzir "displaced" apenas como deslocado).

A mesma história, sim, com muitas palavras diferentes. Agora falada na língua hebraica que aprendeu com persistência e coragem nesses anos em que tudo lhe parecia  aguçar mais a dor sentida. Sem família, sem amigos, resta-lhe a palavra.
Cafetaria Tmol Shilshom

Com essa nova música fala de coisas traumatizantes e cada palavra tem de ser escolhida com cuidado, com prudência, para não se tornar banal ou falso. Não queria escrever sobre o “macro”, queria falar do “micro”. 

Estamos rodeados de pormenores, é preciso encontrar o pormenor que diz tudo e não nos alargarmos…

Neste momento, hoje dia 4 de Janeiro, Aaron Appelfeld deixou de existir. Calou-se? não creio. Deixa a palavra que procurou sempre clara para “dizer” do indizível.
Appelfeld e eu

A palavra de Appelfeld não será esquecida. Continuará a obcecar-nos, a perseguir-nos, cheia de imagens de dor, de beleza também e de gestos belos e solidários.

Para mim, fica o seu olhar azul, aberto, que nos olhava com atenção e suavidade, querendo perceber tudo, abarcar o olhar do outro, sem se evidenciar nunca, sério e interessado vivamente no ser humano que o olhava. Um homem que amava os outros.


Nascido em Jadova – Bucovina (antes Roménia hoje Ucrânia) em Fevereiro de 1932, Aaron Appelfeld morreu em 4 de Janeiro de 2018. Viveu em Mevasseret Zion,  perto de Jerusalém